quarta-feira, outubro 17, 2012
A orquestra, durante o 'Intervalo'...
O filme surge por ocasião dos 50 anos da Orquestra Gulbenkian. Chama-se Intervalo, mas é tudo menos o era-uma-vez desses anos que passaram. Pelo contrário, e seguindo uma linguagem que o realizador já experimentara num outro olhar filmado sobre a orquestra, Tiago Figueiredo concebe em Intervalo um retrato humano, conciso mas vibrante, daqueles que dão vida à orquestra. O filme é feito sem palavras que não as que acontecem quando alguém é captado por uma câmara que tenta ser tão invisível quanto possível. Sem entrevistas, sem narração, mas com toda a informação sugerida para que possamos saber quem faz o quê dentro e fora do palco, a câmara escolhendo figuras que assim toma como personagens que acompanhamos sem que um arco narrativo seja necessário. Afinal, é o coletivo que, somado, nos conta a história. O olhar é profundamente cinematográfico, a invisibilidade conquistada nos momentos da rodagem contrastando com um saber nas escolhas dos momentos a manter na montagem final. E na verdade é aí que o filme ganha forma. Mostrando-nos Tiago Figueiredo uma orquestra com gente dentro. Que toca Bach, Ravel ou Ligeti. Que tanto lida com o seu maestro titular (todavia pouco presente nas imagens) como com convidados como Pedro Burmester, Ton Koopman ou a inigualável Barbara Hannigan. Que mora um espaço incrível pelo qual o filme não deixa de revelar um certo encanto. Que é feita de gente que pratica judo, que vê jogos de futebol, que fala sobre telemóveis, que faz o jantar... Triste sorte a deste Intervalo se a sua vida de esgotar nas sessões, com entrada livre, que a Gulbenkian apresenta no seu Grande Auditório, hoje (pelas 19.00) e sexta (pelas 17.00). Justificava em pleno visitas a festivais. E uma edição em DVD (e porque não Blu-Ray) garantiria outra perenidade a tão rico retrato.