As imagens correntes, que ninguém vê, são sempre reveladoras. Apetece dizer: drasticamente reveladoras. Porquê? Porque colocam em cena visões e aparatos discursivos enraizados no terrível poder da banalização.
O "realizador de cinema", tal como surge representado na corrente série de profissões da Lotaria Popular, é uma dessas imagens: uma figura mais ou menos dominadora, de felicidade discreta mas triunfante, rodeado dos mesmos remotos "símbolos" convencionais (a claquette, a bobina de película...), pairando numa bizarra ausência de contexto material. Curiosa e sintomática derivação: lá ao fundo, à esquerda, há dois bilhetinhos de cinema que, de facto, são... tickets.
Perante esta monotonia figurativa, vale a pena contrapor imagens que, pelo gesto, pela pose ou pela elaborada mise en scène, nos apresentem os realizadores como seres humanos e humanizados, em contexto, trabalhando. Aqui ficam três exemplos:
1. Ingmar Bergman, com Max von Sidow e Liv Ullmann, na rodagem de A Hora do Lobo (1969).
2. David Fincher e Sigourney Weaver na rodagem de Alien 3 (1992).
3. Jean-Luc Godard encenando-se a si próprio em Histoire(s) du Cinéma (1998).
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