Pet Shop Boys
“Elysium”
EMI Music
5 / 5
Podem não morar permanentemente nas listas dos mais vendidos nem ser presença tão assídua na rádio, mas aos 30 anos de carreira os Pet Shop Boys mostram ainda evidentes sinais de uma rara vitalidade. Nos últimos anos vimo-los a produzir música para o teatro e a dança, a viver uma das suas maiores (e mais aclamadas) digressões mundiais e a fazer de Yes aquele que foi o seu melhor álbum desde os dias de Very (clássico de inícios dos noventas). Ali promoviam uma lógica de síntese sobre os caminhos essenciais pelos quais a sua música avançara na esmagadora maioria das etapas da sua vida, ora explorando diálogos entre a pop e heranças várias da música de dança (nunca deixando o disco ir para lá da linha do horizonte), ora recuperando um sentido de elegância numa pop orquestral desta vez sob magníficos arranjos de Owen Pallett. Apesar da solidez de uma linguagem, que há muito definiu uma “voz” própria, os Pet Shop Boys não foram nunca dados à repetição de soluções, pelo que um Yes 2 era desde logo caminho que não se imaginava num sucessor... E porque não algo completamente diferente? Assim foi, e rumaram a Los Angeles com um ponto de partida em mente: os universos que Kanye West registara em 2008 no álbum 808’s & Heartbreak. O disco, que o rapper criara após a morte da sua mãe, era assim a referencia que, junto do seu produtor, Andrew Dawson, os Pet Shop Boys procuravam para um álbum que nasceria igualmente depois de Neil Tennant ter perdido os pais. A morte, o envelhecimento, são destinos centrais de canções onde a intensidade dos ritmos raramente se manifesta, e mesmo quando o faz não se mostra em clima festivo. Não impedindo contudo o sarcasmo, tão característico da sua forma de ver o mundo, tal e qual escutamos em Ego Music, um olhar crítico sobre a nova geração de “famosos”. Tomando como título o “paraíso” da mitologia grega, Elysium é um disco feito de placidez e sobriedade. Atento ao presente, fiel na relação com as electrónicas, aberto a diálogos com a memória, integrando inclusivamente uma citação a uma cantata de Handel em Hold On, outro dos temas centrais do alinhamento, onde se canta o que podemos entender como um hino de resistência em tempo de crise. Para quem enfrentar a chegada de novo disco da dupla em modo de escuta em piloto automático talvez estranhe o tom melancólico que domina o disco. Não é contudo a primeira vez que o fazem, em clássicos como Rent ou My October Symphony visitando-se climas compatíveis com a atmosfera que Elysium define como um todo. De resto, se evocarmos a memória do magnífico Behaviour (1990), sentiremos que este é finalmente o sucessor para esse título-chave da discografia dos Pet Shop Boys (e talvez o seu melhor álbum) que, em 20 anos, nunca tinham apresentado. Talvez os tons menos inventivos que o cartão de visita apresentado em Winner possam induzir em erro. E se entre o fulgor do ritmo de vida do século XXI alguém quiser dar tempo à audição cuidada de um álbum como este poderá acabar por ter uma boa surpresa. Muito boa, mesmo.