Eis uma imagem cuja história pode ser entendida como uma parábola contemporânea, tão edificante quanto perversa, sobre a existência das imagens.
É uma imagem desconcertantemente verdadeira. Ou seja: o operador de câmara aparece reflectido numa superfície espelhada, "denunciando" as próprias condições de registo... Seria apenas um involuntário gag visual, não se desse o caso de integrar um anúncio do Lumia, um novo telemóvel da Nokia.
Que uma estrutura gigantesca e hiper-sofisticada como a Nokia deixe passar um erro tão básico, eis algo que ultrapassa (e desmonta) toda a histeria "racionalista" que contamina muitas formas de marketing. Mas há mais: acontece que as imagens (de um rapaz a filmar a sua namorada) era suposto ilustrarem as qualidades de registo do Lumia, não da câmara do operador anónimo reflectido no vidro! O anúncio do Lumia não foi feito com o Lumia...
A Nokia já pediu desculpas [notícia na BBC] e começaram a aparecer na Net os videos que desmontam o logro [exemplo em baixo]. Seja como for, fica uma moral sarcástica e, em última análise, incómoda: a multiplicação das imagens multiplica também a indiferença dos olhares – o fake não é uma estratégia, mas um modo de vida da nossa (des)crença na verdade.