De que falamos quando falamos do efeito político do Facebook? Marcelo Rebelo de Sousa deu uma excelente contribuição para pensarmos a questão para além das ilusões voluntaristas — este texto foi publicado no Diário de Notícias (14 Setembro), com o título 'Marcelo e as "redes sociais"'.
Já aqui o escrevi e permito-me repeti-lo: não sou admirador do modelo de comentário político protagonizado, na TVI, por Marcelo Rebelo de Sousa (obviamente dominante no espaço televisivo, assumido por personalidades de todas as áreas e partidos). Não me sinto tocado pela sua visão fulanizada da política, resisto à sobrevalorização dos jogos de aparências contra a densidade das ideias e, por vezes, deparo com metáforas de discutível elegância (esta semana, por exemplo, o povo foi designado como o “mexilhão”, por oposição a “outras espécies mais sofisticadas”).
Repare-se: não se trata de discutir a “independência” seja de quem for. Só mesmo as televisões, na sua demagógica candura, poderão querer alimentar a ilusão de que alguém, alguma vez, comenta seja o que for com a virgindade ideológica de um extraterrestre chegado de outra galáxia. Aliás, neste domingo [9 Set.], Marcelo Rebelo de Sousa foi especialmente eloquente no modo como analisou aquilo que chamou uma possível “pré-ruptura” do país com o primeiro-ministro.
Por tudo isso, permito-me também valorizar o modo como o comentador se referiu à intervenção de Pedro Passos Coelho no Facebook. E não apenas porque soube interpretar o que terá sido o sentimento mais forte dos portugueses: fazer política, sobretudo fazer política sem contornar a crueza do real, não é o mesmo que escrever “como cidadão e como pai” e, no final, assinar “Pedro”. Acima de tudo, ao chamar a atenção para o facilitismo da política “feita” pelo Facebook, Marcelo Rebelo de Sousa veio contrariar o lamentável vício televisivo de exaltação das chamadas “redes sociais”.
Da política ao futebol, as mais diversas personalidades televisivas passaram a citar o Facebook como se fosse um oráculo intocável, automaticamente gerador de “verdade”. O que Marcelo Rebelo de Sousa lembrou é muito simples: todas as redes de comunicação (a começar pelas “sociais”) são sistemas de linguagem que importa compreender e utilizar com a devida noção do seu relativismo. Foi, enfim, um grande momento de crítica de televisão. Dentro da televisão.