segunda-feira, agosto 06, 2012

Tele-desastres olímpicos

Face aos Jogos Olímpicos de Londres, as televisões não se têm poupado a desastrosos esforços para acumular dramas dignos da mais medíocre telenovela (e a cerimónia de abertura também não ajudou...) — este texto foi publicado no Diário de Notícias (3 Agosto), com o título 'Dramas olímpicos'.

1. A abertura dos Jogos Olímpicos de Londres, dirigida pelo realizador Danny Boyle (Trainspotting, Quem Quer Ser Bilionário) deixou uma desagradável sensação de confusão. Como se a sua concepção tivesse sido dominada por um preguiçoso princípio de publicidade televisiva. O método consiste em lançar uma peça de fogo de artifício (literalmente ou não) por cada imagem de dois segundos e... deixar arder. Depois, distribui-se um guião recheado de banalidades “simbólicas” e espera-se que os comentadores façam o resto (por todos os recantos do planeta, não se pouparam a esforços: ponham-lhes umas chaminés à frente, escureçam os rostos a umas centenas de figurantes, e aí estão eles a celebrar uma alegoria da Revolução Industrial!). Como se isto não bastasse, Paul McCartney veio interpretar o triste papel de caução nostálgica, esganiçando-se de forma patética a cantar um Hey Jude totalmente desprovido do mistério e da mágoa romântica que envolveu a sua descoberta, em 1968. Fica uma pequena lição geracional: a maior parte das exaltações correntes da música e do imaginário dos Beatles é um misto grosseiro de cinismo e mentira.

2. Não sei, não sei mesmo, porque é que a maior parte dos atletas portugueses aceita a tão cruel parada de humilhações a que estão a ser sujeitos. Do ponto de vista estritamente desportivo, e tendo em conta as nossas posições nos “rankings” internacionais, é normal que, com todos ou quase todos, aconteça o que tem estado a acontecer. A saber: dão o seu melhor e... são eliminados. Normal, insisto. Face a isto, muitas vezes, que fazem as televisões? Pura e simplesmente, não dão notícias: primeiro, antecipam tudo em função das “probabilidades” de cada um chegar à medalha de ouro; depois, choram lágrimas de crocodilo e apontam os dramáticos “falhanços”. O resultado é uma parada de atletas que passaram quatro anos sem que as televisões lhes dessem um segundo de atenção... Agora, muitos deles ainda ofegantes, são colocados frente a uma câmara, sendo-lhes carinhosamente solicitado: “Explique lá porque é que não ganhou...”