segunda-feira, agosto 13, 2012

Somos todos olímpicos (e de canoa...)

JERRY LEWIS
FOTO: Robert Maxwell / GQ

1. Em Portugal, a canoagem passou a ser a nova rota para o (re)descobrimento da Índia... Porventura do planeta Marte! Pelo menos, tendo em conta o ruído televisivo em torno da chegada dos atletas olímpicos que ganharam uma medalha de prata em canoagem, o menos que se pode dizer é que o alarido comunicacional (?) e a demagogia nacionalista atingiram os níveis muito rasos da mais básica obscenidade mediática.

2. Não foi, em termos desportivos, um resultado importante? Claro que sim...

3. As pessoas estavam lá à espera dos atletas? Claro que sim...

4. Acontece que o que aqui se discute não tem nada a ver com isso. O real televisivo não depende de nenhuma imposição de nenhum exterior (ou se depende, agradecemos todos que nos esclareçam). Por exemplo, não é verdade que Chris Marker, falecido há poucos dias, foi ao longo dos últimos 50 anos um nome central na história da modernidade cinematográfica e, em boa verdade, de toda a expressão artística europeia? Claro que sim... Ora, que fizeram as televisões face a essa morte? Na maior parte dos casos, ignoraram o assunto.

5. Dir-se-ia que, à força de cenas de gritos e repórteres de entusiasmada ansiedade, nos querem convencer que somos todos personalidades olímpicas, partilhando uma utopia que é sempre, obrigatoriamente, nacional. Consequências práticas de toda esta agitação? Primeiro, reforça a percepção caricata da nação. Segundo, transforma a nossa pertença a um colectivo num folclore grotesco e gratuito. Terceiro, faz-nos lamentar, muito pragmaticamente, que Chris Marker não se tenha dedicado à canoagem...