Esta é a segunda parte de um texto originalmente publicado na edição de 4 de agosto de 2012 do suplemento Q., com o título 'O Culto que Nasceu Quando a Lua se foi Embora'.
Na altura em que a ITC sugere a criação de uma segunda época de episódios da série UFO, tinham passado apenas onze anos sobre o discurso de John F. Kennedy que lançara os EUA na corrida à Lua e as missões tripuladas da Nasa tinham já deixado de causar a sensação vivida em julho de 1969 com a Apollo XI. O pequeno satélite natural da Terra era, contudo, espaço há muito “visitado” pela ficção. De resto, o mais antigo relato de uma viagem especial ficcionada (e que muitas vezes é apontado como a primeira manifestação da pré-história da ficção-científica) aponta precisamente a Lua como destino. Data do século II a.C. (em concreto do ano 160 a.C.) a História Verdadeira de Luciano de Samóstrata, na qual os dois heróis da narrativa ali chegam com a ajuda de uma tromba de água, contactando de seguida os povos e o rei da Lua... A mesma Lua é visitada depois em textos como o Somnium de Johannes Kepler (escrito em 1610 mas apenas publicado postumamente em 1634), por Cyrano de Bergerac em Voyage dans La Lune (1657), por Daniel Defoe (em The Consolidator, de 1705), Washington Irving (The Conquest Of The Moon, 1809) ou ainda Edgar Allan Poe, no histórico The Unparalleled Adventure of One Hans Pfaall (1835), que é por vezes apontado como um dos exemplos pioneiros de uma narrativa de ficção científica, cabendo contudo a romances como Da Terra à Lua, de Júlio Verne (1865) ou The First Men In The Moon de H.G. Wells (1901) o estabelecimento de uma lógica de ficção científica em narrativas onde tanto as características técnicas da viagem como os olhares sobre o espaço visitado abrem espaço a outra abordagem.
Em 1902, com Le Voyage dans la Lune, de Georges Meliès, a Lua chega aos ecrãs de cinema. E apesar de algumas outras visitas posteriores – de Frau Im Mond (1929) de Fritz Lang ou Destination Moon de George Pal (1950), passando pelo já referido 2001 de Kubrick ou o mais recente Moon (2009), de Duncan Jones – a Lua continuou a conhecer maior protagonismo entre os destinos da literatura de ficção científica em títulos assinados por autores como, entre outros, Robert A. Heinlein, Ben Bova, Arthur C. Clarke ou Isaac Asimov.
Coleção de cromos |
Depois de uma primeira época de 24 episódios, onde surgiram entre os atores convidados nomes como os de Christopher Lee, Peter Cushing ou Joan Collins, um segundo ano de produção juntou ao elenco novas figuras, uma delas a de Maya, uma extra-terrestre com capacidades mutantes interpretada por Catherine Schell (que fora atriz convidada no episódio The Guardian of Piri da primeira época). A segunda série foi moldada ainda mais ao mercado americano. Segundo explica Chris Drake em UFO and Space 1999, os resultados obtidos nos EUA sugeriram mudanças até no plano da produção, com o lugar de Sylvia Anderson (que se afastara por motivos pessoais) entregue ao americano Ferd Freiberger, que trabalhara na terceira época de Star Trek. As mudanças que propõe revelam-se quer no plano da relação entre personagens (ganha forma mais evidente a ligação romântica entre Koenig e a Dra. Russell) e cenários (a Missão Principal é redesenhada para atingir dimensões mais reduzidas e passa a chamar-se Centro de Comando) (10). Os resultados ficam contudo muito aquém do esperado. E o ponto final chega sem surpresas.
O elenco da primeira (cima) e segunda épocas de 'Espaço 1999' |
9 – Datam precisamente de 1972 as missões tripuladas Apollo 16 e Apollo 17
10 – ver 'UFO and 'Space 1999', de Chris Drake, ITC Entertainment Group, 1994 – pág 79.