domingo, agosto 05, 2012

Para ouvir a cor em Debussy


Os prelúdios de Debussy e duas transcrições de outras obras suas para dois pianos em gravação protagonizada pelo pianista russo Alexei Lubimov. Edição pela ECM.

Num ano em que se assinalam os 150 anos do nascimento de Claude Debussy (1862-1918) as edições de novas gravações de obras suas começam a avolumar-se. E entre os títulos que mais se destacam conta-se este álbum duplo no qual o pianista russo Alexei Lubimov interpreta não apenas os dois livros de Prelúdios, mas também transcrições para dois pianos de outras obras (sendo aí acompanhado por Alexei Zuev). Os dois “livros” de Prelúdios de Claude Debussy são uma das suas mais importantes obras para piano, tendo encetado aquele que muitas vezes é descrito como o período final da sua obra. Com um sentido de liberdade interna (em contraste, por exemplo, com os conjuntos de prelúdios em tempos assinados por nomes como Bach ou Chopin), os dois conjuntos de doze peças que constituem este corpo surgiram num relativamente curto intervalo de tempo, os primeiros doze entre dezembro de 1909 e fevereiro de 1910, os restantes entre finais de 1912 e abril de 1913. Mais que a demanda de espaços de relacionamento interno ou lançamento de uma qualquer ideia (Debussy gostava inclusivamente que os pianistas pudessem escolher quais desejavam interpretar e a ordem com que o poderiam de fazer), são pequenas manifestações de uma linguagem já profundamente pessoal, decididamente marcante e influente, acrescentando novas ideias a uma obra pianística que conheceria ainda importante contribuição dos Études, que comporia em 1915.

Nesta gravação, realizada numa igreja belga (em Leut) o pianista Alexei Lubimov procurou reencontrar o som idealizado na época por Debussy, tentando assim recriar a riqueza do cromatismo desta música. Conta para isso com a contribuição de um Steinway de 1913 e um Bechstein de 1925 (Debussy tinha um Bechstein de parede no seu estúdio). Juntando aos dois livros de Prelúdios a transcrição para dois pianos de Três Nocturnos (assinada em 1909 por Ravel) ou a do próprio Debussy para Prélude à l'après-midi d'un Faune, Lubimov dá-nos um dos mais recomendáveis entre os muitos títulos que este ano vão celebrar a memória do compositor francês.