quarta-feira, julho 04, 2012
Um quadro no cinema
Estreou na passada semana nos ecrãs portugueses o filme O Moinho e a Cruz, do realizador polaco Lech Majewski. Como aqui contei em fevereiro do ano passado, quando vi o filme no Festival de Gotemburgo, o ponto de partida do filme é um quadro de Pieter Bruegel. “Em concreto uma visão, que data de 1564, onde o pintor evoca uma cena bíblica em contexto de época, transportando um momento do caminho para o Calvário algures para um cenário na Flandres do renascimento”. E é precisamente um olhar sobre esse quadro, que o realizador descobriu e que muitas vezes revisitou no Kunsthistorisches Museum em Viena, na Áustria, que nasce o filme.
A sua ideia foi então, como aqui descrevi, a de dar vida a várias entre as figuras que vemos no quadro, o filme, apesar de manter como recorrente o cenário que serve de fundo ao óleo de Bruegel usando literalmente formas que não confundimos com um olhar sobre o real, procurando espreitar os espaços e hábitos do quotidiano dessas personagens (algumas delas interpretadas por nomes como os de Rutger Hauer, Charlotte Rampling e Michael York). O Moinho e a Cruz é um interessante exercício visual e um elaborado quadro de composição de imagens. A vontade de arrumar as personagens numa narrativa de ficção nem sempre resulta, assim como a excessiva necessidade de explicar e justificar figuras e factos retira ao quadro contemplativo que se desenha habitualmente entre o visitante de um museu e o que vemos nas suas paredes aquela lógica de relacionamento que vive mais sobretudo de sensações. Lech Majewski teve uma boa ideia. Encontrou uma boa direção artística. Mas quis em cena mais ingredientes que aqueles que o quadro eventualmente pedia...
Imagem do quadro de Bruegel que inspira o filme e sobre o qual todas as figuras e espaços evoluem.
Podem ver aqui o trailer do filme O Moinho e a Cruz