Sinal dos tempos: um pouco por toda a parte, assistimos ao elogio da cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Londres como um grande evento "cinematográfico" (exemplo de A Marca: 'Una cerimonia de cine'). Podemos, evidentemente, ter outra perspectiva e considerar que o evento foi pouco mais que rotineiro... Mas o que importa questionar é esta facilidade com que se cola o adjectivo cinematográfico àquilo que se descreve ou comenta.
Em parte, tal classificação decorrerá do simples facto de a realização da cerimónia ter assinatura de um cineasta (Danny Boyle). Enfim... Mas o mais sintomático é que o adjectivo seja utilizado quase apenas em função de duas linhas de força. A saber:
1) - porque a cerimónia integrou muitas referências a filmes.
2) - porque se assistiu a uma proliferação de elementos mais ou menos gigantescos, luminosos e/ou ruidosos.
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Que se passa, então? Primeiro, o cinema é reduzido a uma acumulação de "citações", tão superficiais ou inconsequentes como as que, todos os dias, proliferam no universo publicitário. Segundo, o cinema surge confundido com os célebres... efeitos especiais.
São factos que dizem bem do apagamento do cinema no espaço corrente da televisão e, mais globalmente, na paisagem mediática. Que os Jogos Olímpicos sejam pretexto para o reforço de tal vazio, de memória e conhecimento, eis a tristeza mais funda.