"Quando os homens morrem, entram na história; quando as estátuas morrem, entram na arte — esta botânica da morte é o que nós chamamos a cultura."
in Les Statues Meurent Aussi (1953)
Chris Marker escreveu o argumento de Les Statues Meurent Aussi (1953), Alain Resnais realizou e Ghislain Cloquet fotografou [video: integral]. De facto, o filme surge co-assinado pelos três, por certo empenhados em sublinhar que se tratava menos de deixar uma assinatura de autor e mais em enunciar um sentimento partilhado de fria revolta: a partir das mais diversas formas de escultura, o filme pergunta, afinal, por que razão a arte africana tem nos museus franceses um tratamento diferente, "selectivo", separando-a da arte europeia (o filme, encomendado pela revista Présence Africaine, esteve interdito em França durante oito anos, acabando por ganhar o Prémio Jean Vigo, em 1954).
Mais do que um título exemplar do entendimento político do documentário, premonitório do sentido crítico da Nova Vaga (que também é), Les Statues Meurent Aussi assume-se como reflexo muito directo de uma conjuntura em que estava a ser metodicamente interrogada a percepção da história colonial da Europa, a par de uma desmontagem crítica das representações quotidianas da sociedade de consumo — nesta perspectiva, pode dizer-se que o filme "antecipa" dois clássicos dos anos 50: Tristes Trópicos, de Claude Lévi-Strauss, e Mitologias, de Roland Barthes (editados, respectivamente, em 1955 e 1957).