sexta-feira, abril 06, 2012

Reedições:
Nik Kershaw, Human Racing


Nik Kershaw 
“Human Racing” 
Island Records / Universal 
3 / 5

Foi um caso de sucesso em meados dos oitentas (e o artista a solo com melhor performance na tabela de singles no Reino Unido em 1984). Mas à chegada dos anos 90 o seu nome poucas águas agitava e hoje não é mais senão memória no campeonato da nostalgia. O sucesso rápido, o modelo de imagem que adotou e a condução do discurso de marketing que o acompanhou apresentou-o segundo as regras do momento nesse 1984 em que mais brilhou. Usava as roupas e o corte de cabelo que eram eco (e vincavam) a moda. Seguia os registos de produção que procurava uma nova sofisticação em estúdio (por oposição à urgência não contida que ditara anos antes a revolução punk e as suas descendências diretas na new wave). Era expressão evidente de uma lógica hedonista que fazia a ordem do dia na cultura pop mainstream... Eleito teen star por uma época, Nik Kershaw viveu um cenário de ascensão e queda num ciclo que, após discreto primeiro lançamento de I Won’t Let The Sun Go Down On Me em 1983 (seria reeditado e feito êxito global meses depois) atingiu o seu clímax em 84, entrando depois num recuo gradual que o dava como quase apagado do mapa quando, em 1989 editou The Works, o seu quarto álbum, de então em diante, apesar de manter carreira editorial regular, vivendo mais de episódicas colaborações (deu voz, por exemplo, a um tema de Stuart Price num disco do projeto Les Rhytmes Digitales) ou de escrita de temas para outras vozes (acabando mais tarde redescoberto pela febre de nostalgias dos oitentas). Nik Kershaw pode ser quase entendido como o arquétipo da estrela pop da moda (não confundir com one hit wonder), que marca o seu tempo com uma mão cheia de êxitos globais mas nem gera descendência nem culto (nem seguidores)... A sua discografia conta oito álbuns, o mais recente de 2010, mas na verdade pode reduzir-se ao disco de estreia, Human Racing (1984), o seu sucessor (The Riddle, de 1984) sendo mero eco desse primeiro LP, o terceiro (Radio Musicola, de 1986) revelando-se já então proposta inconsequente (o seu relativo sucesso justificando-se apenas como expressão fim de ciclo do êxito obtido dois anos antes). Agora reeditado numa versão com dois CD (o segundo disco juntando as versões máxi, os lados B e uma mistura inédita para Bogart), Human Racing permite-nos um retrato do que era a pop mais pop(ular) de 1984. Herdeiro direto de uma cultura pop que integrava a contribuição dos sintetizadores e as novas percussões sintetizadas num quadro instrumental “clássico” (Kershaw é multi-instrumentista e tocava aqui guitarras, baixo, percussões e teclas), Human Racing revela, apesar da carga substancial de uma produção polida, um foco maior na escrita de canções pop para o grande público (e sublinhe-se que não há mal nenhum na coisa). Wouldn’t It Be Good e o já referido I Won’t Let The Sun Go Down on Me são exemplos claros de uma refletida condução dessas ideias, a mais banal balada do tema-título servindo de complemento direto ao par de canções que acabaram como as vozes mais resistentes ao tempo entre os dez temas que constituíam o alinhamento. O disco tem contudo os seus melhores momentos quando Nik Kershaw dá largas a um evidente interesse pela exploração do trabalho da secção rítmica como se escuta em temas como Bogart, Drum Talk ou em Dancing Girls, este último surpreendentemente escolhido como single e transformado depois em êxito. Human Racing é mais o reflexo de um quadro de época que um disco marcante no seu tempo (para além das vendas alcançadas), mas não deixa de ser peça de algum relevo no mapa pop de então. E apesar de não ter deixado heranças, tal como o podemos dizer de álbuns então contemporâneos de nomes como Howard Jones ou uns Re-Flex, as suas resistiram melhor ao tempo (tanto que nos espaços da nostalgia fácil em estações de rádio esses outros nem sequer citados são). A reedição de Human Racing (com som restaurado, notas de contextualização e alinhamento bem reunido) não vai mudar a visão que temos da pop dos oitentas nem promover qualquer manifestação de revisionismo em favor de um outro olhar pelo papel do seu autor. Mas recorda os momentos em que o seu nome teve significado no quadro da pop de então, contribuindo para a construção de um retrato desse tempo.