sexta-feira, abril 06, 2012

A Paixão, segundo o grande ecrã



A Paixão de Cristo, elemento central na definição das fundações da cultura ocidental, tem vasta e marcante história de relacionamento com o cinema. Datam dos primórdios da história da criação do cinema enquanto espaço narrativo as primeiras adaptações dos evangelhos ao grande ecrã. O filme francês Vie et Passion du Christ, de 1903 (na imagem), realizado por Lucien Nonguet e Ferdinand Zecca, um dos primeiros filmes narrativos, representa uma das primeiras abordagens do cinema aos textos bíblicos.


Ao longo da história foram várias, e bem variadas, as abordagens aos mesmos textos. Em 1912, por exemplo, o filme americano From The Manger To The Cross, de Sidney Olcott (na segunda imagem), procurou um cunho realista na visualização do espaço promovendo a sua rodagem na Palestina. Opção na verdade não muito diferente da tomada por Martin Scorsese quando partiu para Marrocos para rodar A Última Tentação de Cristo (estreado em 1988), filme que gerou alguma controvérsia por abordar, não os textos bíblicos, mas uma narrativa que o escritor grego Nikos Kazantzakis havia publicado em 1953.

A diversidade de olhares sobre a Paixão de Cristo no cinema passa por títulos animados por uma profunda espiritualidade como a que Pasolini retrata no absolutamente assombroso O Evangelho Segundo São Mateus, de 1964, pela expressão de diálogos com novas culturas emergentes, como se reconhece na adaptação do musical em registo ópera rock (de Andrew Lloyd Webber e Tim Rice) Jesus Cristo Superstar, por Norman Jewinson, em 1973 ou segundo caminhos no patamar “and now for something completely different” como os Monty Python mostraram em 1979 em A Vida de Brian. Isto sem esquecer as abordagens mais canónicas das super-produções “épicas” dos anos 50 e 60 como A Túnica (Henry Koster, 1953), Rei dos Reis (Nicholas Ray, 1961) ou A Maior História de Todos os Tempos (George Stevens, 1965) e experiências mais recentes como, por exemplo, A Paixão de Cristo (Mel Gibson, 2004).


Três imagens de três filmes. Em primeiro lugar, ainda recordando o cinema mudo, The King Of Kings, filme de 1927 de Cecil B. DeMille. Depois O Evangelho Segundo São Mateus, de Pier Paolo Pasolini. E a fechar o tríptico, A Última Tentação de Cristo, de Martin Scorsese.