domingo, abril 08, 2012
Para reencontrar a visão de Brahms
John Eliot Gardiner fecha o ciclo de edições dedicadas a Brahms com um subtil Ein Deutsches Requiem pela Orchestre Revolutionaire et Romantique e o Monteverdi Choir. Junta duas curtas peças de Schütz (que terão inspitrado Brahms) e algumas mais do compositor alemão. E, uma vez mais, usa a pintura de Howard Hodgkin na capa.
Desde que fundou a sua própria editora – a Soli Deo Gloria – o maestro inglês John Eliot Gardiner tomou como foco central do seu catálogo o lançamento de uma integral das cantadas de Bach (estão editados 27 volumes). Além de alguns títulos avulso (muitos deles igualmente centrados em Bach, um outro revisitando sinfonias de Mozart), Gardiner criou nos últimos anos um outro pólo de ação em torno de Brahms, propondo uma integral da sua obra sinfónica que, tal como explica no texto que abre o booklet de cada edição, procurou tomar como linha condutora uma abordagem através de uma perspetiva encontrada na sua obra coral. A cada um dos quatro volumes que editou (cada qual com uma das quatro sinfonias de Brahms), Gardiner juntou ao trabalho da sua Orchestre Revolutionaire et Romantique o esforço do Monteverdi Choir com o qual trabalha regularmente, juntando assim às obras orquestrais que foi gravando pequenas peças do repertório vocal de Brahms, assim como, pontualmente, composições de outros autores que se relacionassem com o contexto ou jogos de afinidades que justificassem a abordagem à sinfonia em questão, afinal a “protagonista” de cada novo disco.
Faz por isso todo o sentido que a integral das quatro sinfonias de Brahms conte agora com um quinto volume. Um extra. Ou um complemento direto, se assim o entendermos, propondo, segundo os mesmos preceitos, uma gravação de Ein Deutsches Requiem, deste compositor alemão que é figura absolutamente central do romantismo.
Gravada no Usher Hall, em Edimburgo, em agosto de 2008, esta leitura de uma das grandes obras corais do século XIX conta, além da orquestra e coro que habitualmente trabalham sob a direção de Gardiner, com a participação das vozes de Katharine Fugue (soprano) e Matthew Brook (barítono). Hugh Wood, num texto que acompanha o disco, refere esta como sendo uma obra fulcral para a compreensão do desenvolvimento da personalidade de Brahms enquanto compositor, permitindo-nos tanto um olhar sobre a sua vida espiritual como sinais do estudioso que, formado e informado, fortaleceu a sua alma criativa. A abordagem da orquestra e coro é de tocante subtileza, trocando o fulgor e gravidade que escutamos em outras abordagens em favor do que o maestro sugere como uma dimensão mais próxima da visão originalmente procurada pelo compositor. Aparentemente consegue-o. E fecha assim de forma magnífica um percurso por Brahms que foi dos trabalhos-em-curso que valeram apena acompanhar nestes últimos anos. E agora, quem se segue?