sexta-feira, abril 13, 2012
Os Rolling Stones
segundo Mário Lopes
Em mês dedicado a memórias dos Rolling Stones pedimos a alguns amigos pequenos textos sobre o seu disco preferido desta banda que em 2012 celebra os 50 anos sobre a sua formação. Hoje é a vez de Mário Lopes, jornalista do Público, nos apresentar a sua escolha. E escolheu Aftermath.
Aftermath são os Rolling Stones quando os Rolling Stones punham o dedo no pulso do seu tempo. Reflectiam o mundo, o novo mundo que ajudavam a criar, com um descaramento magnífico. Primeira frase, cantada com desdenhoso enfado por Mick Jagger, e mote perfeito para o que se seguirá: What a drag it is getting old. Aquela cítara que abandona a placidez oriental para revelar psicose bem ocidental, alimentada a comprimidos - Mother's Little Helper.
Em Aftermath, o quarto álbum, editado em Abril de 1966, os Stones são uma máquina pop imbatível, porque não há delicadeza escapista, antes uma sensação, conforme a idade e as convicções de quem ouvia, de ameaça ou de libertação. Têm ainda a contribuição esporádica mas decisiva de Brian Jones (são as suas marimbas que fazem Under my thumb), e são ainda e totalmente os bluesmen que sonhavam ser anos antes, quando, citando livremente Bob Dylan, eram bem mais velhos.
Este “rescaldo” é o novo início: as bases do mundo de ontem tinham sido dinamitadas e havia uma revolução social e cultural em curso. Aftermath são os Stones enquanto ídolos pop e actores contra-culturais – Street fighting man e Sympathy for the devil a dois anos de distância – unidos indistintamente no mesmo corpo. Muito adultos, mas juvenis no gesto e na atitude confrontante.
Aftermath encontra os Stones numa encruzilhada a que não mais conseguiriam regressar: porque perderiam a inocência, inevitavelmente, porque se tornariam na década de 1970 apenas representantes de si mesmos, da sua grandeza e importância no cenário rock'n'roll. Aqui, ainda estavam suficientemente perto, mas já criativamente distantes, das noites suadas de início de carreira no Crawdaddy, quando tudo o que interessava era vencer o público pela energia e magnetismo da interpretação. Por isso há o medievalismo de Lady Jane lado a lado com essa Going home que é espiritualmente, “xamanicamente”, o melhor blues da discografia dos Stones – Jim Morrison tomava notas, Arthur Lee inspirava-se nela para criar o lado B do imprescindível Da Capo, segundo álbum dos Love.
A capa negra e púrpura, com os rostos da banda escondidos na sombra, é magnífica. A música, imbatível. Out of time: acabara. Os Stones não iriam esperar por quem escolhia atrasar-se no tempo. Estavam lá à frente. Uma eterna promessa de futuro, como o provariam, de formas distintas, os álbuns imediatamente seguintes, Between the Buttons, Their Satanic Majesties Request e Beggars Banquet.