sexta-feira, abril 20, 2012

Os Rolling Stones
segundo Gonçalo Frota


Em mês dedicado a memórias dos Rolling Stones pedimos a alguns amigos pequenos textos sobre o seu disco preferido desta banda que em 2012 celebra os 50 anos sobre a sua formação. Hoje é a vez de Gonçalo Frota, jornalista, nos apresentar a sua escolha. E escolheu Beggars Banquet.

Não lhe chamaria disco preferido. Chamar-lhe-ia antes último disco do período preferido. Gosto sobretudo dos Rolling Stones entre 1966 e 1968. Não porque desgoste do antes e do depois, mas entre Aftermath e Beggars Banquet a minha pele não se comporta da mesma forma na presença da música desta gente. Parece que fica mais fina, deixa passar o frio, manda os pêlos colocarem-se em sentido. Não porque desgoste do antes e do depois – escrevia. Mas porque o antes existe apenas porque canções como Mother’s Little Helper e Lady Jane (de Aftermath) não se escrevem sozinhas, precisam de uma parede onde apoiar a sua magnificência; e o depois porque, mesmo sendo Sticky Fingers e Exile on Main Street duas obras-primas impossíveis de ignorar, são na verdade o início da cristalização da sonoridade que ainda hoje é “a cara” dos Stones.

No período 1966-68 os Rolling Stones eram uma banda que já não são. Em parte, grande parte mesmo, porque tinham Brian Jones a bordo. E Jones funcionava como o contraponto perfeito para o lado mais bluesy de Keith Richards. Vinha da mesma devoção desabrida por gente como Elmore James, Robert Johnson e Charley Patton, mas tinha uma curiosidade voraz relativamente a outras músicas. E foi isso que os Stones perderam com o seu desaparecimento: deixaram de ser curiosos, aprenderam a ser excelentes espelhos de si mesmos. Em Beggars Banquet, disco-abrigo para uma das melhores canções de sempre (acertou quem pensou em Sympathy for the Devil, mas quem se lembrou de Street Fighting Man também pode reclamar o prémio), Jones toca guitarra, guitarra slide, harmónica, sitar, tambura e mellotron. Pode parecer um pormenor de ficha técnica. Mas não é. É apenas o glorioso fim de um capítulo que, oficialmente, só terminaria com Let it Bleed. Só que nessa altura Jones já estava meio fora da banda e meio fora do mundo. Aqui, ainda estava a expandir-se dentro do mundo.