quinta-feira, abril 26, 2012

Indie Lisboa 2012 (dia 1)


Começa hoje a nona edição do festival Indie Lisboa. Entre as salas do Cinema São Jorge, da Culturgest e do Cinema Londres há muito cinema para ver até dia 6 de maio. Num ano de resistência à “crise”, o Indie apresenta aquele que parece ser dos seus melhores cartazes de sempre (conclusão a tirar, naturalmente, depois de vistos os filmes). Longas metragens como 4.44 de Abel Ferrara, Take Shelter de Jeff Nichols ou For Ellen, de So Yong Kim e curtas como O Que Arde Cura, de João Rui Guerra da Mata, Rafa e Cerro Negro de João Salaviza, Julian de António da Silva ou Palácios de Pena de Gabriel Abrantes são alguns dos títulos a destacar entre uma programação que tem ainda mais focos a merecer atenção. Pelo Indie Music passam filmes sobre Andrew Bird, os Sigur Rós ou TV on The Radio, entre outros. Há ainda o cinema do suíço Lionel Baier ou um clássico de Fassbinder... A abertura faz-se hoje, no Cinema São Jorge, pelas 21.30, com Dark Horses, de Todd Solondz (na imagem de cima).


O que diz um condenado a oito dias de ser executado? O que é morrer? Que sentido encontra quem vive uma contagem decrescente que sabe ser praticamente irreversível? Porque se condena alguém à morte? Até onde vale o olho por olho, dente por dente?... São questões que passam pelo assombroso documentário Into The Abyss, de Werner Herzog, que passa hoje às 21.30 na Culturgest (onde repete dia 4, às 19.00).
Claro numa posição contrária à pena capital, Herzog toma o caso de Michael Perry como objeto da sua (e da nossa) atenção. Uns dez anos antes, ele e um amigo (condenado a prisão perpétua, “salvo” da injeção letal pelo depoimento de um pai que vivei mais anos preso que junto ao filho) mataram, para roubar um carro. Mataram a dona do carro. E, para conseguir sair do condomínio fechado onde vivia, procurando o comando remoto que abria o portão, mataram depois o seu filho e o amigo com quem estava naquele momento. Herzog encontra Perry a uma semana da execução. Ouve Jason Buckett, o outro assassino. O pai deste. A mulher que com Jason se casou entretanto. Um oficial ligado à investigação que encontrou as vítimas. A filha da mulher alvejada. O padre que acompanha o condenado à câmara de execução. E um antigo funcionário dessas instalações que, com mais de 120 execuções feitas, pediu a demissão e hoje defende que a pena capital não é solução. O filme não é contudo um panfleto. Apesar de deixar clara a sua posição, Herzog coloca-se no papel de quem prefere antes escutar. Usando a entrevista como dispositivo central para a construção da narrativa, arrumando em capítulos temáticos os passos da história que nos conta, Herzog deixa assim que algumas contradições ganhem voz. Como quando a filha da vítima diz que ninguém devia tirar a vida a ninguém, para logo depois confessar que sentiu alívio ao regressar da execução (a que assistiu e descreve). Ou quando tanto Michael como Jason encontram um no outro, nos seus modos de vida, personalidades ou atitudes, as razões para explicar o que correu mal e os levou ao destino que agora enfrentam.