quinta-feira, abril 26, 2012
Em busca de um lugar
Chegou esta semana às salas portuguesas o filme Este É O Meu Lugar (no original This Must Be The Place), de Paolo Sorrentino, que recentemente abriu entre nós a mais recente ediçãoo da Festa do Cinema Italiano. O filme vive essencialmente da personagem interpretada por Sean Penn. Chama-se Cheyenne, é visualmente um herdeiro evidente do look de Robert Smith, dos The Cure, mas a sua história é outra. Antiga estrela rock, Cheyenne vive hoje um dia a dia de rotinas e mais silêncios que ruídos na sua mansão irlandesa. É um homem assombrado, como confessa numa cena em que dialoga com David Byrne (que faz de... David Byrne), culpando-se (pela carga negativa das suas antigas canções) da morte de dois fãs que levaram demasiado a sério o que cantava. Confrontado com a morte iminente do pai, que não vê há 30 anos e vive na América, embarca para uma viagem que o obrigará a confrontos com o seu passado. E com memórias do próprio pai, que procurara, sem sucesso, encontrar o carcereiro que o atormentou nos dias que viveu em Aushwitz... Cheyenne parte em busca do homem, a sua demanda pela América profunda desencadeando toda uma multidão de sensações e reflexões que, de uma forma ou outra, acabará por ter de assimilar.
Sorrentino talvez lance ingredientes a mais no caldeirão, e a tormenta rock’n’roll já daria, por si só, pano para mangas. Mas a solidez com que Sean Penn veste a pele de um ser fragilizado garante que, mesmo assim, não se perca o fio à meada. O filme, que a dada altura ganha a alma de road movie, é um claro exercício maneirista na relação com a imagem, seja pela forma como usa a cor ou por pelas características dos olhares em alguns planos. Não são soluções que sirvam necessariamente a narrativa. Mas são no fim marcas de identidade que definem a personalidade desse “lugar” onde Cheyenne se procura a si mesmo.
PS. Nota final para o título do filme, que evoca diretamente o título de uma canção do álbum Speaking In Tongues, que os Talking Heads editaram em 1983. O tema This Must Be The Place (Naive Melody) é, de resto, interpretado pelo próprio David Byrne num dos momentos mais belos do filme. A banda sonora do filme de Paolo Sorrentino contou ainda com a preciosa colaboração de Bon Iver.
Podem revisitar aqui esse tema, numa atuação histórica dos Talking Heads.
Imagens do trailer do filme