segunda-feira, abril 30, 2012

E hoje escolho eu...


Ao longo deste mês aqui recordámos alguns episódios na obra dos Rolling Stones, que celebram em 2012 os 50 anos de vida. Hoje recordo aquele que é o meu álbum preferido da banda.

É uma espécie de ovni. E claramente o mais atípico dos álbuns dos Rolling Stones. Resposta a Sgt. Pepper’s dos Beatles? É uma comparação demasiado fácil e peca por ser redutora. Na verdade eram muitas as bandas desse tempo no mesmo comprimento de onda, a demanda encaminhando-os por trilhos semelhantes ou paralelos, as afinidades partilhadas acabando por estabelecer entre muitos dos discos pop/rock editados em 1967 um sentido de “momento” como poucos instantes da história da música popular conheceram. E o mapa não se esgota nos Beatles e nos Stones, a presença de nomes como os Pink Floyd (ainda liderados pela alma visionária de Syd Barrett), Love, Doors, Jefferson Airplane, Small Faces, Grateful Dead e até mesmo os Byrds ou Beach Boys sendo fulcral para lançar os traços maiores de uma história que poderia convocar ainda nomes menos vezes lembrados como uns Electric Prunes, Seeds ou ? & The Mysterons...

Entre 1966 e 67 a música assimilou outras influências e ganhou novas cores e formas. A progressiva abertura dos Rolling Stones para lá das linhas mais canónicas de ascendência nos blues que haviam redigido o seu bilhete de identidade começam a manifestar-se em Aftermath, alargando-se em Between The Buttons e alcançando expressão maior em Their Satanic Majesties Request. A capa dá o mote. Aqui há cor, fantasia e liberdade. Aqui há o culminar de um período em que a visão pop de vistas largas de Brian Jones dominou tudo e todos. Aqui há grandes canções como She’s A Rainbow ou 2000 Light Years From Home e episódios invulgares como o belíssimo In Another Land, com voz de Bill Wyman (que chegou mesmo a ser single). Aqui há sinais de uma banda atenta ao seu tempo e entregue ao desafio de o ajudar a inventar. Aqui há ecos da música de vanguarda de então e também de heranças escutadas no teatro (que então conheceram expressão maior no contemporâneo álbum de estreia de David Bowie).

É certo que há invenção nos Stones pós-1967. E basta citar títulos de álbuns como Beggars Banquet, Let It Bleed, Sticky Fingers ou Exile On Main Street para reconhecer quão marcantes foram no seu reencontro com as linguagens primordiais do rock’n’roll. Mas se excluírmos episódios posteriores como o flirt ao disco feito em Miss You e esse outro episódio maior que foi Emotional Recue, nunca mais os Stones foram tão profundamente aventureiros e ousados como neste seu álbum de 1967.

 

Imagens de uma atuação dos Rolling Stones nos dias de Their Satanic Majesties Request, ao som de 2000 Light Years From Home, um dos singles extraídos do álbum. Além das marcas de identidade de uma música caleidoscópica que caracterizava o psicadelismo (note-se o uso de rebobinados, muito característico deste tempo, que sugerem um tom inebriado à música) a canção explora ecos de experiências da música de vanguarda de então (Stockhausen e seus contemporâneos eram, então, escutados pelos nomes de linha da frente da cultura pop/rock).