De vez em quando, importa parar. Parar e olhar.
O jornalismo das telenovelas, e para as telenovelas, fundamenta-se num princípio de dissolução ontológica: deixou de haver vida privada porque, na verdade, deixou de haver ficção. O leitor/espectador é convocado para um território de pura alucinação em que não se reconhece nem respeita nenhuma especificidade: acontece tudo no mesmo plano descritivo.
Não admira que esse jornalismo seja tão indiferente às singularidades do factor humano e, em particular, à humanidade dos actores — em boa verdade, já não há corpos nem desejos, apenas identidades instrumentalizadas.
Que tudo isso apenas seja discutido em termos de audiências, eis o que diz bem da nossa miséria civilizacional: é a economia, nas suas manifestações mais agressivas, quase sempre aliadas a discursos publicitários, que rege o imaginário público das relações humanas (vividas ou ficcionadas, tanto faz...).