domingo, março 11, 2012
O mediterrâneo, a seis cordas
Peças de compositores como Albeniz, Granados ou Teodorakis, num retrato do mediterrâneo desenhado com uma guitarra pelo montenegrino Milos Karadagli. O disco acaba de ser lançado no catálogo da Deutsche Grammophon.
São relativamente escassos os quilómetros de costa no mapa montenegrino, mas o clima e a (sua parcela da) cultura mediterrânica moram entre as referencias da identidade deste estado que em tempos integrou a Jugoslávia. E é do Montenegro que chega Milos Karadagli, guitarrista de 28 anos que assinala o seu primeiro lançamento de grande ambição no catálogo da Deutsche Grammophon com um disco que propõe um retrato pessoal do Mediterrâneo.
A sua história pessoal mostrou cedo um talento para a guitarra. Aos seis anos, e com algumas cordas em falta numa velha guitarra da família, entrava numa primeira escola local onde logo foi notado pelos professores e ensinado segundo o mais rigoroso método idealizado por Fernando Sor. Atuou publicamente pela primeira vez aos nove anos e, dois anos depois, ganhava um concurso no seu país. Apontou objetivos à Royal Academy of Music em Londres onde acabaria por entrar, aprofundando assim a sua aprendizagem do instrumento pelo qual se apresenta agora como solista.
O Mediterrâneo, como o músico descreve, está “numa encruzilhada cultural” que é no fundo a razão pela qual explica que a música entre a qual cresceu era “tão interessante e variada”. Ecos dessa vivência e de descobertas posteriores habitam entre o alinhamento de Mediterrâneo, para o qual chamou peças de compositores como Albéniz, Tárrega, Granados, Domeniconi, Llobet ou Teodorakis, entre a maioria das composições cruzando-se ecos de culturas folk que vão de Espanha à Turquia. Milos e a guitarra são as presenças únicas na quase totalidade do alinhamento do álbum que apresenta como único escorregão a cedência (absolutamente dispensável) de uma leitura, com acompanhamento orquestral, do pop(ularucho) Romance, tema que encontraria melhor casa naqueles discos de muzak baratucha, e aí em companhia de outras peças do mesmo calibre já com carreiras feitas em versões para flautas de pan...
Imagens de um excerto da interpretação de Asturias, de Isaac Albéniz, por Milos Karadaglic
PS. O mesmo alinhamento teve uma edição, também pela DG, como The Guitar, em 2011. Passou a leste das atenções. Resta ver como o trabalho de marketing conseguirá agora fazer da mesma música um fenómeno. De novo há a mudança de título de The Guitar (mais “frio) para Mediterrâneo (não só mais quente como geografica e culturalmente mais capaz de estabelecer jogos de sugestão e sedução). Na capa (que usa a mesma foto) um novo tipo de letras faz da comunicação algo aparentemente menos formal... Juntam-se os vídeos que um DVD adicional junta como extra... E agora é ver de algo mudou na relação do mundo com este promissor guitarrista montenegrino.