quarta-feira, março 07, 2012
O 11 de setembro segundo Stephen Daldry
É do título ser comprido? É por tocar em feridas ainda abertas mais de dez anos depois? É por mostrar que o 11 de Setembro é mais que as imagens que a televisão mostrou, desviando antes o olhar para a comunidade onde a dor foi coisa talvez anónima para o resto do mundo mas mais profundamente sentida entre quem viveu a perda de perto? É por ter como protagonista uma personagem que tem todos aqueles predicados que moram habitualmente mais na ficção que no mundo real (a pandeireta que domina os medos, o receio de andar em transportes públicos, a multidão de interesses)? O certo é que a quantidade de opiniões de pouco ou escasso entusiasmo perante Extremamente Alto e Incrivelmente Perto (o mais recente filme de Stephen Daldry) tem dominado muitas das opiniões escritas e partilhadas. Pois por estes lados a opinião vai no sentido contrário, reconhecendo neste filme talvez uma das mais interessantes das abordagens ao 11 de setembro de 2001 já levadas ao grande ecrã. E porquê? Porque, em volta de uma história que só parece possível como coisa de um conto (a morte de um pai, o encontrar de uma chave e a busca pela fechadura que deveria abrir), o filme de Daldry observa, mais que os de Oliver Stone (World Trade Center) ou Paul Greengrass (United 93) e com uma amplitude que não era ainda possível (dada a proximidade) em A Última Hora, de Spike Lee, como a cidade sentiu e partilhou a dor. Se a isto juntarmos uma realização que sabe que fazer um filme não é só dizer era-uma-vez com imagens, a presença discreta (mas marcante) de um Max Von Sydow, um Thomas Horn que promete uma carreira no cinema, uma banda sonora de Desplat que permite eventuais pontos de ligação à memória da presença de Philip Glass em As Horas, do mesmo realizador e uma série de olhares por espaços de Nova Iorque, temos argumentos suficientemente altos e incrivelmente cativantes para ver este como um dos grandes filmes do ano.