sexta-feira, março 02, 2012

Novas edições:
Simple Minds, X5


Simple Minds 
“X5” 
Virgin Records / EMI Music
3 / 5 

O sucesso global é por vezes um pau de dois bicos. E para os Simple Minds, se deles fez um nome capaz de encher estádios na segunda metade dos anos 80, ao mesmo tempo quase apagou a memória de uma outra etapa da sua vida, musicalmente bem mais interessante, ousada e mesmo influente que muitos dos que os descobriram mais tarde talvez julgassem impossível. O sucesso não é aqui o mau da fita, que há precisamente 30 anos o álbum de 1982 New Gold Dream e o single Promissed You A Miracle davam ao grupo escocês uma visibilidade já considerável e claro reconhecimento (e vendas de discos). O desvio face ao rumo inicial, que fazia dos Simple Minds um nome tão interessante de seguir no panorama pop de inícios dos oitentas como o eram os primeiros passos de uns Tears For Fears ou Talk Talk, chega em 1985 quando aceitam gravar Don’t You Forget About Me para a banda sonora de The Breakfast Club. O single vira sucesso global (inclusivamente na América) e, acompanhado um ano depois pelas canções com ambição de estádio (mas sob inesperada flacidez criativa) de Once Upon a Time, transforma o grupo numa espécie de U2 de segunda linha, a ilusão da grandiosidade funcionando por uns tempos, acolhendo mesmo a nova mudança de rumo para terrenos mais “celtas” quando chega Street Fighting Years, em 1989, altura em que os Simple Minds eram já uma das bandas mais maçadoras do panorama pop/rock de visibilidade mundial, a dimensão dos temas da segunda metade dos oitentas apagando então quase por completo a memória dos primeiros anos da sua carreira. Valeu entretanto o tempo que passou. E com ele o surgimento de uma nova geração de ouvintes nascidos já sem o preconceito de quem via nos Simple Minds uma daquelas instituições para quem gosta mais de karaoke que de música. E eis que em 2012 não só partem para a estrada com os azimutes apontados a outras memórias, como acompanham a digressão com uma caixa que encerra os seus cinco primeiros álbuns (precisamente os melhores de toda a sua discografia). X5 pode ser, portanto, um momento de descoberta e de triunfo dos ouvidos sobre o preconceito. Se é verdade que depois de 1985 os Simple Minds se transformaram no oposto ao que sabe bem acompanhar numa banda, convém contudo reconhecer que houve um tempo em que alinhavam entre uma multidão onde o entusiasmo da descoberta definia antes os seus objetivos. E se Life in A Day (1979) é apenas um discreto cartão de visita de uma banda nascida em tempo pós-punk (mas sob vitaminas tomadas a ouvir a música de Bowie e de uns Roxy Music), já Real To Real Cacophony (também de 1979) e, sobretudo, Empires and Dance (1980) são importantes exercícios de integração da assimilação da descoberta da música de uns Neu!, uns Kraftwerk e mesmo uns Cars e Talking Heads no quadro dessa mesma genética. Produzidos por Steve Hillage, os dois álbuns do díptico Sons and Fascination / Sisters Feelings Call (editados originalmente juntos em 1981 mas depois lançados também em separado) aprofundam o trabalho de integração desses elementos, abrindo alas para a descoberta de uma pop mais polida e luminosa que chega em 1982 com New Gold Dream (81-82-83-84). Deixando de fora o álbum Sparkle In The Rain (de 1984), que prenuncia os caminhos que tomariam na segunda metade da década, esta caixa junta assim e memória dos Simple Minds antes de transformados num caso de popularidade mainstream mundial com canções que em nada repetem a visão que antes haviam escutado e que aqui se regista. Pena que, com tão marcante cardápio de memórias (juntando ainda os lados B dos respetivos singles a cada álbum) e sob grafismo que recupera as capas originais dos discos, falte a devida contextualização. E se a conversa que explica a ausência é a do é caro e não permite a venda da caixa a um preço reduzido então porque não se faz um sitezito com textos, imagens e as capitas dos álbuns e singles? Ou o evocar da história só serve para vender outra vez velhos discos?