Ao longo de março vamos aqui encontrar memórias contadas na primeira pessoa. Memórias de filmes que estejam afastados daquelas listas habituais que fazem a conversa de todos os dias. Filmes "perdidos". Ou se preferirem, "filmes pedidos"... Hoje lembramos Má Raça ('Mauvais Sang' no original) filme de 1986 de Léos Carax, que aqui é evocado por Inês Meneses, da rádio Radar. Um muito obrigado à Inês pela colaboração.
Fui uma apaixonada pelos filmes de Carax nos anos 80. Vi primeiro Má Raça (creio que por sugestão de um dos actuais directores do Festival Internacional de Curtas de Vila do Conde – todos eles já na altura muito cinéfilos) e depois descobri Boy meets Girl de 84 (mais experimental).
Mauvais Sang, mais de 25 anos passados, ainda é para mim uma imagem, ou melhor, uma sequência – o extraordinário actor Denis Lavant dançando na rua Modern Love de David Bowie. O filme poderia apenas ser isto (já era tanto), mas depois tem Juliette Binoche em estado de graça, e o enorme Michel Piccoli.
Carax nestes filmes, vivia de uma contenção que não se há-de repetir em muitos cineastas. Até porque parecendo paradoxal, há uma atitude pop nestes filmes - o silêncio e o despojamento, a música certa e os grandes actores. Má raça é isto tudo, o filme mais perfeito dele.
(Em 91 voltaria ao par Binoche/Lavant em Les amants du Pont-Neuf – a química entre os dois é mágica).