Numa magnífica revisitação da primeira metade do século XIX, a Freiburger Barockorchester trouxe ao Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian os sons de um tempo seduzido pela harmonia das estruturas e o equilíbrio interno do espectáculo. Dito de outro modo: Schubert (Sinfonia nº 4, D. 417), Schumann (Introdução e Allegro appassionato, op. 92) e Mendelssohn (Sinfonia nº 4, op. 90) foram os cartões de visita de uma conjuntura ainda atravessada por uma espécie de nostalgia utópica, tão colectiva na celebração quanto intensa no intimismo.
Na sua secreta dilaceração, a peça de Schumann deixou o rasto de uma obstinada demanda poética, expressa no diálogo entre orquestra e pianoforte, instrumento de sonoridade sempre enigmática em que pudemos reencontrar o brilhante Kristian Bezuidenhout (viramo-lo, há dias, acompanhando Viktoria Mullova). Sob a direcção do impecável Pablo Heras-Casado, a Freiburger Barockorchester deixou, enfim, o sentimento paradoxal de uma memória cuja actualização não carece de nenhuma justificação mais ou menos pitoresca — somos, afinal, mais contemporâneos das deambulações de Schumann do que de muitas formas actuais de criação. Esta é uma nostalgia carregada de futuro.
>>> Video: breve dissertação/exemplificação de Kristian Bezuidenhout sobre o pianoforte.
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