domingo, março 04, 2012
Nos primórdios do minimalismo
De 1968, A Rainbow In Curved Air, gravação histórica de Terry Riley, importante peça dos primórdios do minimalismo (e com impacte imediato sobretudo nos caminhos da música popular mais atenta a formas experimentais na época) surge com som remasterizado.
Apesar de reconhecido como um dos quatro pilares fundamentais do minimalismo norte-americano (os outros sendo La Monte Young, Steve Reich e Philip Glass), Terry Riley na verdade partiu cedo rumo à demanda de outros horizontes, entre o jazz e as sugestões da música indiana encontrando alguns dos caminhos que a sua obra depois tomou. A sua “produção” minimalista corresponde (na verdade tal como nas obras de Glass e Reich) a trabalhos apresentados na segunda metade dos anos 60. E se o seu mítico In C (de 1968) é desde sempre apontado como um momento de importância estrutural maior na definição do minimalismo, com impacte no desenvolvimento de formas ligadas à cultura erudita de finais do século XX, na verdade podemos encontrar no disco que lhe sucedeu uma visão que teve impacte ainda mais imediato entre o panorama pop/rock e correntes da contra-cultura da época.
Gravado pelo próprio Terry Riley, usando para isso as técnicas de overdubbing disponíveis nos estúdios de então, A Rainbow In Curved Air é uma composição que parte de técnicas de repetição que In C aperfeiçoara, mas na verdade parece mais próximo de heranças diretas de peças ambientais, feitas da manipulação de sons e texturas como Mescalin Mix (1962/63) ou Music For The Gift (1963). Por essa altura Terry Riley era já um claro admirador da música de nomes como Miles Davis, John Coltrane ou Charles Mingus, mas na verdade era nas memórias das experiências colhidas junto de La Monte Young (com quem havia estudado na Califórnia) que encontrava ideias para a criação de uma música com mais interesse pela espontaneidade que encontrava no jazz que com as regras mais definidas que então reconhecia nos espaços da música clássica.
A Rainbow In Curved Air começa por nos propor uma estrutura feita de elementos repetidos, mas em breve mostra horizontes abertos a sugestões que ora ecoam essa espontaneidade que escutava no jazz ora um sentido algo hipnótico que colhia no seu interesse pela música indiana. E é esse poder ao mesmo tempo meditativo e inebriante que cativam certamente os espíritos pop/rock da época mais atentos às correntes experimentais (Mike Oldfield estará certamente entre os muitos que ali encontraram sugestões que depois levaram à sua música).
A presente reedição de A Rainbow In Curved Air (tal como na versão original do disco junta ainda ao alinhamento Poppy Nogood And The Phantom Band) surge com som remasterizado e um texto de Sid Smith num booklet desdobrável.