Com chancela da Universal Pictures, Lorax é um bom exemplo de uma animação exterior às "marcas" mais fortes deste domínio de produção (Pixar/Disney e DreamWorks) — este texto foi publicado no Diário de Notícias (22 Março), com o título 'Fábula, ecologia e pedagogia'.
Na história recente das aventuras (mais ou menos) infantis, as opções da animação digital cruzam-se cada vez mais com a aplicação das imagens a três dimensões. Aliás, em termos mediáticos, a lógica industrial dominante tem vindo a impor uma “colagem”, no mínimo, simplista: os desenhos animados já não se definiriam tanto pela sua especificidade visual, antes por aplicarem ou não o 3D... Apesar de tudo, há filmes como Lorax que, para além de uma sóbria aplicação do 3D, nos permitem compreender que a questão não está tanto no aparato tecnológico como na muito simples (?) arte de contar histórias.
É bem certo que, no mercado português, a estreia de Lorax vem agravar uma situação profundamente discutível, já que prevaleceu a opção de não lançar nenhuma cópia com as vozes com que o filme foi concebido (não houve, pelo menos, projecção para a imprensa da versão original), entre as quais figuram Danny DeVito, Zac Efron e Taylor Swift. O problema torna-se tanto mais sensível quanto, para além da falta de espessura do som dos diálogos, sem verdadeira dimensão cénica, parecendo acontecer sempre no mesmo espaço reduzido, o trabalho de misturas apresenta-se francamente deficiente (por exemplo, é quase impossível decifrar as palavras da primeira canção do filme).
Seja como for, Lorax resiste a todos esses percalços, permitindo-nos reencontrar o sentido de fábula do livro clássico de Dr. Seuss em que se baseia. A dimensão ecológica da história do menino que quer encontrar uma “árvore verdadeira” adquire, assim, uma renovada energia, mostrando que é possível ser-se subtil e pedagógico sem tratar as crianças como inevitáveis patetinhas e, sobretudo, sem sujeitar crianças e adultos a sermões paternalistas.