Vários Artistas
"Chimes of Freedom - The Songs of Bob Dylan"
Universal
2 / 5
Reza a velha máxima que não se pode agradar a gregos e troianos ao mesmo tempo. Mas podemos juntar gregos e troianos em torno de uma ideia comum... É o que acontece em tempo de assinalar os 50 anos da Amnistia Internacional (AI), num álbum quádruplo (coisa que já não se usa, é verdade) que soma 72 versões de canções de Bob Dylan por figuras e vozes das mais variadas frentes da criação musical, das mais interessantes às nem por isso... Em primeiro lugar o denominador comum. Dylan. Como explica um texto que apresenta o disco num site ligado à AI recorda-se a forma como a obra de Dylan acompanhou a essência da atividade desta organização, sublinhando que “tem explorado e expressado a angústia e a esperança da condição humana moderna”. Símbolo da luta pela paz e pela igualdade e ainda voz maior entre uma geração que devolveu à música um poder político nos anos 60, Dylan é por um lado uma figura de reconhecimento global e transversal e, ao mesmo tempo, denominador comum ao leque de referencias de inúmeros músicos que o souberam escutar e entender. A escolha não podia ter sido mais acertada... A arte de recriar canções de Dylan é outra velha máxima com uma longa (e apetitosa) história de grandes versões, que vão dos “clássicos” reinventados pelos Byrds ainda nos sessentas às leituras que fizeram história em Bryan Ferry ou ao mais recente Ring Them Bells por Sufjan Stevens ou a reinvenção de Knocking on Heaven’s Door por Antony & The Johnsons (que não moram neste disco, sublinhe-se). O pequeno mundo de contribuições aqui recolhidas abre horizontes a muitos caminhos e gentes. Mas, na verdade, Chimes Of Freedom é disco que brilha mais na carteira das intenções que na soma de feitos musicais que encerra. Porque, com ou sem causas, um disco afinal é um disco. Do CD1 vale a pena reter a leitura de Patti Smith para Drifter’s Escape, a recuperação de uma gravação de Johnny Cash em One Too Many Mornings, valendo ainda (pela invulgaridade cromática) a abordagem Mariachi El Bronx a Love Sick. O segundo disco mostra um bem encenado Rainy Day Women por Lenny Kravitz, uma segura leitura folk , de travo western, para One More Cup Of Coffe (Valley Below) por Steve Earle e Lucia Micarelli, abre uma janela no tempo quando Joan Baez canta Seven Curses e espaço para algum mimetismo (mas com tempero moderno) num Mr Tambourine Man pelos Jack’s Manequin. O CD 3 é o que joga em vistas mais largas, da versão de K’naan de With God on Our Side ao arranjo de Philip Glass para Don’t Think Twice, It’s Alright, pelo Kronos Quartet, juntando ainda bons momentos por Neil Finn (She Belongs To Me), Bryan Ferry (clássico, em Bob Dylan’s Dream), Zee Avi (cruzando latitudes em Tomorrow Is a Long Time) ou Carly Simon (Just Like a Woman). Já o quarto CD é mais desmotivador, valendo apenas pelo Subterranean Homsick Blues de Michael Franti ou Baby Let Me Follow, por Marianne Faithfull. Para quem gosta de mais-do-mesmo, nomes como os de Sting, Mark Knopfler, Adele ou Diana Krall aqui moram em leituras nos seus habituais comprimentos de onda... No fim, apesar das boas intenções, o somatório é de dieta...