Já ninguém se lembra deles. Assim o diz a responsável do canal de televisão que se prepara para dar mais um “não” aos Marretas quando um funcionário lhe diz que o concurso “Bate no Professor” (ou algo perto disso) acaba de ser cancelado. A executiva, que gosta mais de consultar gráficos com estudos de popularidade que de pensar no que tem pela frente, naturalmente desconhecedora do real valor de certas heranças e memórias, não tem senão que lhes dar um “sim”. E, com o intuito de recolher fundos para salvar o seu estúdio de um magnata do petróleo adepto de risos maléficos, os Marretas voltam assim à televisão...
Assim nos conta Os Marretas, filme de James Bobin que agora devolve ao grande ecrã uma das mais felizes criações da história da televisão norte-americana. Semana após semana, com convidados que foram de Paul Simon a Debbie Harry, de Julie Andrews a Harry Belafonte, os Marretas não só eram herdeiros de toda uma tradição musical (com ecos do cinema de Hollywood e dos palcos da Broadway) como trabalharam um humor rico em vitaminas positivas que transformou em ícones da cultura popular figuras como as do sapo Cocas, a porca MissPiggy, o urso Fozi ou o cão Rowlf. O filme segue em tudo o cânone clássico que a série televisiva sempre respeitou, junta atores reais aos Marretas, vários convidados especiais (que vão de Jack Black, Neil Patrick Harris, Feist, Willie Nelson, Dave Grohl, Emily Blunt ou Whoopi Goldberg a James Carville, um comentador político da CNN) e uma mão cheia de momentos musicais (onde nem falta o incontornável Manã manã...).
Não se glorifica aqui um sentido de nostalgia. Lembra-se antes que um presente vive da soma de memórias se quer acreditar num futuro. Os Marretas são, de resto, retratados como figuras que há muito saíram de cena e que, de certa forma, perderam algum contacto com as realidades do presente. Fozi é contratado por um grupo de imitadores (os Moppets) e atua longe das atenções; Gonzo tem uma firma de canalizações, Miss Piggy dirige uma revista de moda em Paris, Rowlf, o cão, dorme... E Cocas, quando se lhe pede uma “estrela” convidada, telefona para a Casa Branca e pergunta pelo presidente Carter (que liderou os EUA de 1977 a 1981).
Num tempo em que os valores da noção do que é entretenimento televisivo moram numa remota sub-cave do que os Marretas em tempos levavam ao pequeno ecrã, o reativar da sua memória não gera apenas um belo e divertido momento para viver numa sala de cinema como serve também para nos lembrar que há vida (e ideias) para lá de um mundo de concursos medíocres, reality shows e telenovelas.