sexta-feira, fevereiro 10, 2012
Os Pet Shop Boys
segundo João Moço
Num mês dedicado aos Pet Shop Boys escutamos algumas histórias contadas na primeira pessoa. Pedimos “o” seu disco do grupo e o porquê da escolha... Hoje é o João Moço, jornalista do DN, quem nos explica porque It’s a Sin, de 1987, é o seu disco dos Pet Shop Boys.
Confesso que não sei precisar o momento em que ouvi pela primeira vez os Pet Shop Boys. De alguma forma parece que nunca existiu uma vida pré-Pet Shop Boys. Sempre estiveram por cá. No entanto, sei bem quando tomei a verdadeira consciência de quem eles eram e da música que criavam. E quando se é um adolescente altamente perturbado, afogado numa vila remota, ouvir algo como o It’s A Sin é, no mínimo, desconcertante. A língua inglesa tem uma boa expressão para isto: “life-changing” (se bem que, na verdade, não se pode aplicar com justeza uma vez que a minha crença na mudança é nula, mas isto é conversa para outro dia).
Ouvir com consciência It’s A Sin foi de tal forma pujante que só me recordo de um embate físico que aperta caixa torácica. Nesse dia abri os olhos, mas simultaneamente o medo quase que se tornou insuportável. A visão de me olhar ao espelho através de uma canção pop de cinco minutos pode ser assustadora. De um momento para o outro dou de ouvidos com uma canção que resumia toda a vergonha que sentia por viver numa condição que não compreendia e que os outros a meu redor repudiavam.
Como a própria canção o diz, “I tried not to do it”. E ainda hoje esse permanente sentimento de culpa em relação ao próprio ser mantém-se. Bem mais atenuado do que na altura, porque até os medos e ansiedades se racionalizam para que a vivência diária não seja tão penosa. Ainda assim mantém-se e, também por isso, It’s A Sin dos Pet Shop Boys continua hoje uma canção tão essencial como foi naquele dia.
Podem ver aqui o teledisco de It's a Sin