sexta-feira, fevereiro 24, 2012

Novas edições:
Vários artistas, Voguing


Vários Artistas 
“Voguing - Voguing and The House Ballroom Scene of New York City 1989-1992” 
Soul Jazz 
4 / 5

As raízes mais remotas datam dos anos 60, entre salas de baile afro-americanas e latino-americanas no Harlem (Nova Iorque), então conhecida como “presentation”. Com o tempo o voguing (com nome que não só cita a revista de moda como a ideia de estar “em voga”) vincou a sua existência e evoluiu entre espaços underground da cultura queer nova-iorquina. Surgiram competições, envolvendo “casas” (na verdade nada mais senão grupos de dançarinos agrupados como se de famílias se tratassem) e conquistando um espaço próprio na afirmação de uma identidade local. Os passos em cena cruzavam uma ideia de dança com a de passagem de modelos, os movimentos dos braços e pernas sugerindo gestos angulosos, o corpo seguindo de pose em pose como se um fotógrafo aguardasse a seguinte. O voguing saiu do underground quando, em finais dos anos 80, Malcolm McLaren faz do fenómeno um dos ingredientes visuais (mas também temáticos) do seu álbum Waltz Darling (onde surgia um tema com o título Deep in Vogue). Meses depois o single Vogue, de Madonna (acompanhado por um teledisco que assimilava os passos desta dança, que chegaria também ao palco da sua Bonde Ambition Tour) fazia desta criação underground um fenómeno de exposição maisnstream... O tempo avançou, o voguing ganhou pontualmente adeptos em outras latitudes e, como em qualquer outro fenómeno da cultura popular, acabaria por sair de cena. Foi um fenómeno mais performativo que essencialmente musical – apesar de ter conhecido em temas como o já referido Deep In Vogue de Malcolm McLaren ou X, de Junior Vasquez, importantes pontos de diálogo entre quem criava a música e quem a vivia depois na pista de dança. Daí que Voguing, o volume antológico que a Soul Jazz agora apresenta seja não só um retrato da música criada sob inspiração deste movimento como, ao mesmo tempo, a banda sonora de outros temas da mesma época que os DJs que asseguravam a condução destas noites acabaram por adotar como seus. Com o sub-título Voguing and The House Ballroom Scene of New York City 1989-1992, o disco (que surge também em versão com um livro), o alinhamento desta antologia escuta um espaço de referencias que vão de ecos do disco e do funk às então mais recentes movimentações de genética house, recuperando gravações de nomes como Cheryl Lynn, Masters at Work, Diana Ross, Armand van Helden, Junior Vasquez ou Malcolm McLaren. Mais um retrato de um episódio importante da história da club culture numa série que, uma vez mais, mostra porque se fez uma referência.