domingo, fevereiro 05, 2012

A grande "nona" de Philip Glass


Lançada na passada terça-feira num exclusivo da loja iTunes, a primeira gravação da Sinfonia Nº 9 surge num registo pela Bruckner Orchester Linz, dirigida por Dennis Russel Davies.

Teve estreia mundial logo no início do ano em Linz, na Áustria. Foi apresentada como peça central do concerto que assinalou, há dias, o 75º aniversário de Philip Glass (no Carnegie Hall, em Nova Iorque). E tem mais uma data marcada para 5 de Abril, com estreia na Costa Leste (dos EUA, claro), pelas Los Angeles Philharmonic (com a presença muito especial de John Adams como maestro nessa ocasião)... Esta é a Sinfonia Nº 9 de Philip Glass (obra que, para afastar a “maldição” da “nona”, o compositor compôs em simultâneo com a “décima”, que está terminada mas não tem ainda data de estreia anunciada). Tudo parecia indicar que, além das três plateias acima referidas, algum tempo haveria de passar até o resto do mundo a poder escutar. E para surpresa de muitos, na passada terça-feira (31 de janeiro, data da estreia americana) a loja iTunes apresentou o inesperado lançamento, em exclusivo, da obra, numa gravação expressamente pensada para o formato e tecnologia da edição digital. Opção que em tudo sublinha uma particular atenção do compositor para com as novas formas de distribuição de música gravada, aposta à qual há muito associou o trabalho da sua própria editora: a Orange Mountain Music. Obra de grande fôlego para um grande orquestra, a Sinfonia Nº 9 é uma obra orquestral (contrastando assim com o trabalho para orquestra e vozes das sinfonias números 5, 6 e 7) e representa talvez o mais impressionante feito no formato da sinfonia para Philip Glass. Se a Sinfonia Nº 8 (igualmente estreada em disco em gravação pela Brukner Orchester Linz, sob direção de Dennis Russel Savies) procurava já horizontes distantes, a Sinfonia Nº 9 é uma obra que reflete não apenas a solidez da personalidade da linguagem de Philip Glass como traduz um interesse do músico por ideias que não se fecham nas latitudes mais canónicas, escutando ideias de outras paragens geográficas e, mais que nunca, acolhendo heranças de outros tempos, o romantismo do século XIX e a presença de ecos de um Shostakovich parecendo iluminar a alma de uma sinfonia em tudo impressionante. As marcas de identidade (da presença de elementos repetitivos os harpejos essencialmente “cantados” pelas cordas) estão presentes, mas a música de Glass abre aqui, mais que nunca, espaço a outra contemplação interior, a outro lirismo. Como parte significativa da sua obra sinfónica, a sinfonia apresenta-se dividida em três andamentos, ao belíssimo segundo cabendo o papel de coração emocional que a caracteriza e marca. Soberbamente interpretada por uma orquestra e um maestro que são reconhecidos especialistas na música de Philip Glass, a Sinfonia Nº 9 do compositor é uma herdeira de uma grande tradição e, tal como acontece com Beethoven, Mahler ou Bruckner, uma obra de referência para o compositor.