United Future Organization
“United Future Organization”
Brownswood / Talkin’ Loud Records
(1993)
A multidão de acontecimentos desencadeados como efeitos secundários da revolução que a música de dança lançou em finais dos anos 80 foi bem para lá dos territórios da house, da acid house ou do techno que representaram então importantes linhas da frente. Entre as consequências da abertura das atenções de DJs, músicos, editores e públicos a espaços adiante dos terrenos mais tradicionais das práticas pop/rock (e não esquecendo também o momento de progressiva globalização da cultura hip hop que então se começava a viver) surgem focos de interesse pelo jazz. É curioso verificar que entre os primeiros “inventores” de novos caminhos de diálogo do jazz com o hip hop e outras formas próximas das “músicas de dança” de então se encontra Miles Davis, cujo último álbum, Doo-Bop (1992) representa importante momento de reflexão que logo terá consequências diretas em nomes como os Us3, Ronny Jordan ou Guru, importantes protagonistas do jazz hip hop que então gerou alguns dos títulos fulcrais da discografia dos anos 90. Em paralelo com o jazz hip hip hop um outro caminho (igualmente atento às heranças do jazz) ia conquistando adeptos e revelando criadores. Sob a designação acid jazz, congregando ideias colhidas num vasto terreno de propostas, da house ao funk e arredores, fez-se movimento com janelas de comunicação nas séries de compilações Tottaly Wired (da Acid Jazz Records) e Rebirth Of Cool (da Talkin’ Loud) e espaço maior de comunhão de ideias entre músicos, DJs e seu público nas noites que semanalmente ocupavam o The Fridge, em Brixton (Londres). Juntando dois japoneses e um francês, os United Future Organization foram um dos nomes que ali ganharam visibilidade, apresentando impressionantes sets onde velhos discos de jazz ganhavam nova vida pelo cruzamento de ideias (e ritmos). A ideia ganhou cedo primeira materialização no promissor EP Jazzin’, editado em 1992 e teve depois, no ano seguinte, concretização maior em United Future Organization álbum que podemos recordar hoje como um dos títulos de referência do acid jazz. Apesar do surto de euforia (que trazia ecos de Jazzin’) de Vinyl Junkie, o álbum procura essencialmente a exploração da canção, criando para cada um dos temas uma atmosfera que reflete o interesse (e conhecimento) dos músicos pela matéria prima que lhes serve de inspiração. On Est Ensemble Sens Se Parler (onde a voz de Raphael Sebbag avança sobre cenografia que sugere o ambiente de um bar) ou My Foolish Dream (com a presença de Monday Michiru) são dois entre os exemplos da elegância cool que mora entre os nove temas de um álbum que inclui ainda uma versão (que muito se escutou então) do clássico Upa Neguinho, de Edu Lobo. As primeiras manifestações de nostalgias dos noventas ainda não passaram do grunge e arredores, mas quando passar por estes lados vai certamente desencadear novos e interessantes (re)encontros com o jazz.