1. É especialmente feliz o título com que o Diário de Notícias resume o insólito (não) feriado de Carnaval: "Não houve tolerância de ponto, mas foi feriado".
2. Confesso: sou dos que consideram a discussão dos feriados versus produtividade uma dessas invenções político-mediáticas com que nos damos ao luxo de gastar tempo (e alguma inteligência). Um pouco como se começássemos a avaliar os méritos de uma equipa de futebol a partir da marca de cortadores de relva usada no seu campo...
3. O certo é que vivemos esse pueril paradoxo que a frase condensa. No dia a dia, foi mesmo possível perceber que o cidadão comum se interrogava sobre a natureza da terça-feira de Carnaval, indeciso sobre o acesso que teria (ou não teria), por exemplo, ao comércio e outros serviços — não, não era exactamente feriado... mas, enfim, talvez fosse.
4. Provavelmente, as oposições encontrarão aqui um bom motivo de galhofa em relação ao Governo. Provavelmente, terão motivos para isso. Mas ser-lhes-ia mais útil se avaliassem o fundo da questão. A saber: a incapacidade global da classe política estabilizar alguma coisa, nem que seja o nosso calendário social.
5. No limite, este é um drama visceralmente cultural. Claro que a classe política quase só se dá conta da cultura quando um filme português é premiado no estrangeiro (e mesmo isso...). Acontece que o cultural é isto que está aqui à nossa frente: esta arte que (não) temos para gerir os nossos mais básicos modos de vida. Seria, noutro contexto, uma brincadeira de Carnaval.