Este ano, nas secções paralelas da Berlinale, há um espantoso acontecimento retrospectivo: uma recuperação de cópias do estúdio soviético, com comparticipação alemã, Meschrabpom-Film (1922-1936). Para além da imporância de alguns dos autores envolvidos (Boris Barnet, Lev Kuleschov, Joris Ivens, etc.), há títulos que documentam a tensão fascinante entre certos modelos do cinema popular e os ditames da propaganda comunista. Exemplo de desconcertante tom kitsch, aqui evocado pelo seu cartaz, é Gibel Sensazii (título inglês: Loss of the Sensation), realizado em 1935 por Aleksandr Andrijewski: uma fábula sobre a fabricação de robots para substituir os trabalhadores, encenada com um incrível misto de histeria simbólica e profundas limitações técnicas. Uma descoberta, enfim, para contrariar clichés políticos de qualquer cor e proveniência.