quinta-feira, fevereiro 02, 2012
Ao som dos Pet Shop Boys
com Vitor Belanciano
Ao longo deste mês estamos a evocar memórias dos Pet Shop Boys. Alguns convidados vão ajudar-nos a contar algumas destas histórias, lembrando aquele que tenha sido o mais marcante (para si, claro) dos discos desta dupla. Hoje escutamos West End Girls, que nos é apresentado por Vitor Belanciano, jornalista do Público. Ao Vítor um muito obrigado por esta colaboração.
Segundo a mitologia da pop muitas vezes é difícil superar a excelência de um primeiro álbum. Percebe-se a ideia. É como se determinado projecto tivesse tido todo o tempo do mundo para criar, sem grandes pressões, a sua obra de arte perfeita e, depois de ter sido lançada, sobrassem as dúvidas: o que fazer a seguir? Continuar na mesma linha ou encetar uma ruptura?
Agora enderecemos esta lógica para um single como West end girls, que deu a conhecer os Pet Shop Boys ao mundo em 1984, uma canção próxima da perfeição, uma das melhores de sempre da história da cultura popular, equilíbrio exemplar entre clima melancólico, derivação rítmica insinuante, voz elegante e uma letra preocupada com os caminhos da sociedade Inglesa da época, ao que parece inspirada no poema The waste land de T.S. Eliot.
Consta que Neil Tennant, principalmente este, e Chris Lowe, terão ficado chateados quando ouviram Blue Monday, porque os New Order endereçavam aí uma mudança completa de sonoridade, próxima daquele que o duo também perseguia. Mas não havia razões para preocupação, já que qualquer um desses temas mantém uma frescura inigualável.
Talvez não olhemos hoje para ele dessa forma, mas a ideia original de Tennant e Lowe era provocar uma combinação entre as linhas de baixo do hip-hop e do electro e ritmos mais próximos do house dos primórdios. O resultado, na altura, como ainda hoje, é um tema hipnótico, capaz de criar uma atmosfera intensa e inquieta, mas deixando um rasto de leveza atrás.
Depois desse tema inaugural, a dupla viria a lançar outros singles extraordinários (álbuns com o mesmo nível de excelência dos singles já é mais discutível) mas West end girls haverá de ficar para sempre, pelo menos para mim, como a sua canção mais marcante. Há alguns anos em entrevista a Neil Tennant este dizia-me que, nessa altura, não havia sido fácil romper com os códigos do rock, então predominantes, mas a verdade é que West end girls alcançou o 1º lugar do top nos EUA e Inglaterra.
Tal como a canção, também o vídeo, da autoria de Andy Morahan e Eric Watson, é excelente. De alguma forma nessa dupla capacidade de expor ideias e imagens para as canções inauguravam uma nova forma de estar que, nem os New Order, que apesar de tudo se mantiverem fiéis ao figuro habitual dos concertos rock, alguma vez ousaram. Com os Pet Shop Boys a pop passou a ser mais conceitual, cuidada visualmente e teatralizada.
Imagens do teledisco de West End Girls.