Mês Philip Glass - 20
Se as primeiras obras de Philip Glass apontavam essencialmente no sentido da busca (e, depois, afirmação) de uma ideia formal, com o tempo a sua identidade filosófica começou a marcar presença em composições que foram assim aprofundando as características da sua personalidade e o seu mundo de opiniões e preocupações. Cedo ficou clara uma ideia de existência humanista e um interesse transversal pela exploração de misticismos de várias origens e das afirmações de diferença entre culturas que, no fundo, e depois de somadas, mais não são senão os tijolos que constroem a nossa identidade comum.
Ao pensar numa obra maior para o assinalar da viragem, do milénio Glass procurou expressar estra imensa variedade de expressão de ideias e crenças num mesmo espaço comum. Sob a forma de uma sinfonia vocal (mais próxima portanto do gume central da sua obra para os teatros de ópera), elaborou uma visão grandiosa que cruza textos de origens tão distintas como o grego, chinês, japonês, hebraico, sânscrito e diversas línguas indígenas, traduzidos para inglês. A Sinfonia Nº 5, até hoje a sua maior e mais interessante obra para orquestra (além, claro está, do trabalho para o mundo da ópera) junta assim as culturas e crenças do mundo sob uma voz comum expressando um canto de confiança e fé da humanidade sobre si mesma.
A sinfonia teve gravação pela Vienna Radio Symphony Orchestra e vários solistas, sob direção de Dennis Russel Davies. A edição, pela Nonesuch, surgiu na forma de CD duplo acompanhado por um packaging que reforça a ideia de recolha de textos antigos, cada qual impresso em folhas separadas, com cores diferentes, da soma do que os distingue surgindo uma vez mais essa mesma noção de identidade que vive da junção das diferenças e não da sua diluição.