Estávamos em inícios dos anos 90. Ainda o mercado discográfico português era dominado pelas grandes editoras quando, em Coimbra, um homem com uma visão apostou na criação de um espaço para a emergente música de dança que começava a cativar não apenas público mas também a ter pólos criativos por estes lados. Entre a organização de festas e os lançamentos de discos, a Kaos Records afirmou-se como "a" casa dos principais lançamentos de nomes de uma geração de DJs e produtores que chegaram inclusivamente a conhecer visibilidade internacional, quer em lançamentos (alguns deles via Tribal Records) quer em artigos de imprensa. De resto, à conta do trabalho de António Cunha, da Kaos e dos que seguiram depois os seus passos, a música de dança portuguesa chegou mesmo a conhecer um "momento" em meados dos noventas (um dos artigos internacionais chegou a falar então num "paraíso chamado Portugal").
Pela Kaos Records António Cunha lançou discos de nomes como os Underground Sound of Lisbon (dupla que juntava DJ Vibe e Doctor J), Luís Leite, The Ozone, Urban Dreams, entre muitos mais. Entusiasmado com os novos lançamentos, lembro-me das muitas vezes em que o António Passava por Lisboa, entregando-me em mãos os novos máxis que ia editando. Pediu-me um texto para integrar a compilação Totally Kaos, a primeira que a editora lançou, em 1994. Foi o primeiro texto que fiz para um disco e nunca o esqueci. O António foi uma força maior no panorama da música de dança entre nós e um dos responsáveis pela forma como o meio evoluiu nos anos 90. Deixou-nos agora.