terça-feira, janeiro 17, 2012

Para evocar a guerra civil americana

Mês Philip Glass - 17


Era na origem um projeto de dimensão algo megalómana. Com o título completo The Civil Wars: A Tree Is Best Measured When It Is Dow, a ideia de partida sonhava com uma ópera de larga escala com encenação assinada por Robert Wilson e que envolveria o trabalho de vários compositores, entre os quais David Byrne, Gavin Bryars e Philip Glass. O projeto previa a estreia individual de cinco partes, a reunir depois numa apresentação comum que aconteceria ao longo de um dia, em tempo de assinalar as olimpíadas de 1984. As partes separadas tiveram de facto, estreia individual, mas a visão conjunta nunca se materializou. E hoje, a quase 30 anos de distância, da memória de Civil Wars pouco mais há senão um disco com os Knee Plays criados por David Byrne para a Minneapolis Section e a chamada Rome Session, de Philip Glass.

A Rome Section de Philip Glass é uma pequena ópera. E acabou por ter vida independente. A música reflete claramente um maior domínio da escrita para orquestra e vozes (reflexo dos bons resultados alcançados com as óperas-retrato) e a composição antecipa um modelo de trabalho que mais tarde seria aplicado em La Belle et La Bête e que parte de uma vontade do compositor em seguir (tal e qual quando se compõe para cinema) o curso e o ritmo de uma narrativa que não é definida por si. Com base na guerra civil americana (o tema central a toda a ópera), a Rome Section de Glass junta a figuras como as de Abraham Lincoln e a sua mulher as do italiano Garibaldi (que também no século XIX lutou pela unidade no seu país) e de personagens da mitologia grega.

Civil Wars: Rome Section teve gravação em disco em 1999 pela American Composers Orchestra, dirigida por Dennis Russel Davies. Entre as vozes do elenco que encontramos no disco (lançado pela Nonesuch) conta-se a de Laurie Anderson (figura cuja obra musical tem em Glass uma das referencias e que com ele colaborou também em Songs From Liquid Days).