quarta-feira, janeiro 18, 2012

O silêncio como protesto


A Wikipedia fechou hoje os seus serviços em protesto contra duas propostas de lei em discussão no Senado e no Congresso dos EUA. Jimmy Wales, o fundador da Wikipedia, explica que estas leis, apesar de visarem o combate à pirataria e a defesa da propriedade intelectual, “estão tão mal escritas” que acabarão por ter consequências em outros serviços online, podendo ferir fatalmente a noção de internet livre e gratuita que hoje conhecemos.

Aqui podem ler mais sobre este protesto que representa, como alguns media já descreveram, uma primeira tentativa de luta organizada da jovem industria da Internet contra o poder estabelecido dos grandes grupos.

Numa nota pessoal posso afirmar que não sou adepto da pirataria. Nunca fui. Não concordo com a ideia de alguém usar, sem pagar, aquilo que é no fundo o resultado do esforço e trabalho de outros. Mas não consigo mais ouvir o discurso já estafado de alguns editores que continuam a achar que a pirataria é a causa única para a sua progressiva queda de vendas. É-o, de facto, e em parte significativa até. Têm parte da razão. Mas a pirataria não explica tudo.

E que tal se apontassem também a mira aos Governos da UE pelo facto de o IVA aplicado aos discos ser excessivo?

E que tal se lutassem também junto dos Governos por uma educação musical ao nível curricular que ajudasse a estabelecer mais cedo uma relação com a música que não lhe desse o ar de coisa descartável com a qual os mais novos hoje convivem dia a dia, juntando e apagando ficheiros áudio nos seus telemóveis e leitores mp3?

E que tal se tivessem uma política de preços mais justa que traduzisse o real valor de um CD?

E que tal se voltassem a ver a música como (também) uma arte que convém dignificar e não apenas um produto para vender até que a moda seguinte dite a tendência da estação seguinte?

E que tal se editassem melhores discos (e os promovessem de facto para eventualmente transformar em casos que chamam atenções) e não apenas assegurassem os lançamentos daqueles que sabem que garantidamente (ou quase garantidamente) fazem números?

Podíamos ficar aqui horas a fio a argumentar.

Que se legisle o direito à propriedade intelectual. Os criadores têm direito a ver o que é seu defendido. Mas que não se tome o braço quando se pede a mão, que pode bem ser o que estas propostas legislativas pedem.