Vários artistas
“Rough Trade Electronic 11”
Rough Trade
3 / 5
A história conta-se todos os dias. Até mesmo à medida que vai acontecendo. É certo que o tempo e o distanciamento que estre traz nos permitem depois uma afinação dos pontos de vista. Mas podemos ir relatando o que vai sucedendo a par e passo com o que o mundo nos dá a conhecer. É talvez coisa mais parecida com uma ideia de jornalismo que de um relato segundo as regras de quem redige a história. Mas esta proposta de guardar um retrato do passado recente logo no instante depois dele acontecer tem a função acrescida de divulgação daquilo que eventualmente escapou até aos mais atentos. Falamos em concreto de uma antologia esta semana lançada pela Rough Trade e que nos coloca perante um retrato do que 2011 escutou no departamento das electrónicas. Se, à partida, a sugestão pareceria sempre ter o seu interesse, num ano de tão magra dieta de ideias nos campos das guitarras (raras sendo as propostas que vale a pena reter entre exemplos maiores da banda sonora do ano que agora acabou), o retrato apresentado ganha ainda mais sentido de oportunidade. O retrato faz-se em 22 temas. E desde logo podemos ora comentar os escolhidos como referir os que ficaram de fora. E se é notória a ausência de um James Blake (queira-se ou não, goste-se ou nem por isso, foi uma das figuras centrais do mapa da música – electrónica e não só – ao longo do ano), as não representações de nomes como os de Jai Paul, Jamie Woon, Washed Out, ou Son Lux podem explicar-se das mais variadas razões, uma delas o simples facto de não andarmos todos a ouvir (e a gostar) do mesmo. Ou seja, nada contra. Na verdade, e apesar da presença (incontornável, assinale-se) de John Maus ou Nicolas Jaar, a compilação através da qual a Rough Trade faz o retrato electrónico de 2011 vive mais da sugestão de nomes em afirmação ou figuras experientes algo afastadas do gume das atenções mediáticas. Da house revisitada pelos já reconhecidos Hercules & Love Affair às texturas criadas pelo ilustre Alva Noto aos pólos no gume da invenção que juntam nomes como Ford & Lopatin, Rene Hell ou Flying Lotus, o panorama revela um ano de visões com horizontes largos que lançam bases para que 2012 leve ainda mais adiante as ideias. O disco talvez falhe na vontade de alargar tanto o leque de escolhas ao ponto de desfocar (e diluir) uma eventual sugestão dos caminhos essenciais que 2011 trilhou. O mergulho pelas estéticas industriais na reta final do alinhamento ou o dispersar de atenções em propostas mais experimentais por um lado garante verdade ao retrato, por outro transforma o alinhamento num menu com excesso de sabores... Mesmo assim, uma boa ideia.