terça-feira, janeiro 17, 2012

Novas edições:
Lanterns on the Lake, Gracious Tide, Take Me Home


Lanterns On The Lake
"Gracious Tide, Take Me Home"
Bella Union
3 / 5

Os caminhos da folk de berço britânico talham meandros entre os tempos e de vez em quando revelam focos que chamam atenções. É o que parece estar a acontecer pelos lados de Newcastle-upon-tyne (cidade lá para o nordeste inglês, perto da Escócia) com um sexteto que se apresenta como Lanterns on The Lake que, depois de alguns EPs editados desde 2008 e de terem andado pela estrada com o bretão Yann Tiersen, se estrearam em álbum em 2011. Com lançamento em Setembro do ano passado (ainda vamos a tempo), Gracious Tide, Take Me Home é um discreto e cativante cartão de visita. As canções sugerem o bucolismo de quem conhece as paisagens onde impera o verde e o betão não mora nas vizinhanças. Guitarras (sob ecos menos densos da memória de uns Mazzy Star e outros heróis indie da electricidade tranquila e gourmet) cruzam-se com a presença de um piano, um violino, um glockepnspiel, discretas electrónicas. As vozes, apesar do protagonismo maior de Hazel Wilde, contam ainda com a participação (contrastada) de Adam Sykes... E em conjunto, e por onze temas, Gracious Tide, Take Me Home, convida-nos a entrar num mundo feito de pequenos (e acessíveis) encantos que se revela em canções atravessadas por um marcante sentido de melancolia e nostalgia. Diz quem conhece Newcastle que ali os ecos da memória de outros dias fazem parte das formas e ruas que são a cidade do presente. Há por ali toda uma herança de bardos e poetas, de paisagens pintadas e histórias contadas, que de certa forma podem morar, tal como o farão as naturais fontes de inspiração da banda e as paisagens locais (o título do disco sugere os movimentos das marés), na alma que gera estas canções. Apesar da filiação em genéticas da folk, a música dos Lanterns on the Lake não procura uma simples revisitação de modelos e formas. Antes, e tal como o fizeram uns This Mortal Coil nos oitentas ou Belle and Sebastian nos noventas, ensaia expressões contemporâneas que, mesmo carregando todas as marcas de um passado, revelam acima de tudo uma vivência do presente. De resto, o fulgor de pontuais tempestades que brotam aqui e ali (como escutamos, por exemplo, em Tricks) devem mais a uma relação dos tempos de hoje com uns Sigur Rós que a uma vontade de revisitar os velhos heróis da folk britânica.