quinta-feira, janeiro 05, 2012

Em conversa: Os Capitães da Areia (2)


Lançaram o seu álbum de estreia na reta final de 2011, revelando uma ideia pop luminosa e com sabor a Verão. Esta é a primeira parte de uma entrevista aos Capitães da Areia que serviu de base ao artigo 'Música pop para contagiar o lado luminoso da vida' publicada na edição de 28 de dezembro do DN.

Porque não incluíram Bailamos no Teu Microondas no alinhamento do álbum?
A canção-single Bailamos no teu Microondas foi escrita e composta com um único pretexto: fazer parte da compilação Depósito de Inúteis (Amor Fúria) que, como o nome indica, apenas tem canções inúteis que não se encaixam em lado algum. Os Capitães da Areia não são só manifestações de contentamento e júbilo e o disco tem espaço apenas para as canções que o constituem. Se o “Microondas” estivesse no nosso primeiro disco, passava a ser útil.

O que vos motiva musicalmente? O que vos leva a fazer música? 
A música para os Capitães é tão natural como um passeio porque sim, como um beijinho, como assobiar ou contemplar uma tarde de sol. Criamos e cantamos como um baloiço que baloiça. É da nossa natureza. Contrariá-la seria um desgosto.

Os Heróis do Mar são uma inspiração? (cantaram Alegria em concerto). Qual é o legado que vos parece que a banda tenha deixado à pop made in Portugal?
A pop (1) dos anos 80 carimbou uma geração mas salpica muitos daqueles que por ela não passaram e que só anos mais tarde tiveram contacto com essa sonoridade tão característica. Os Heróis do Mar foram uma das maiores bandas pop de Portugal e para nós é um privilégio poder beneficiar do seu legado musical. É com grande honra que tocamos canções dessa banda senhora de glória que faz parte da nossa "escola elementar". E faz sentido referir toda a sua postura, os arranjos e a imagem, atributos que embora diferentes dos nossos encontram-se na fórmula quase sagrada de fazer uma obra. A riqueza dessa década foi imensa, o horizonte era intocável e há muitas outras bandas que merecem vénias! Mas o que sobretudo nos inspira é que nessa época o medo não fazia parte dos artistas. Primavam pela inovação, escreviam-se muito boas letras, a irreverência surgia a cada esquina e tudo isso é de louvar. O que queremos é marcar pela diferença na atualidade, mas recorrendo ao nosso próprio imaginário, género musical e, acima de tudo, mostrar que ainda se pode fazer muito pela música cantada em português. Não é fácil. Mas é possível. Reinventando a pop.

O que sentiram com a notícia do fim d'Os Golpes? 
O fim? Segundo lemos no comunicado, Os Golpes decidiram “suspender toda a atividade da banda.” Se fosse o fim, teria sido uma catástrofe facilmente equiparada ao terramoto de 1755. Nem queremos pensar no que seria… Ter de reconstruir Lisboa e desta vez com Marquês de Pombal em estátua?!

Capitães da Areia porquê? Via Jorge Amado? 
Se o Verão é eterno esta é a pergunta eterna, a da nossa praxe. Na verdade, a única associação que pode ser feita entre nós e Jorge Amado é o nome de uma das suas obras. A nossa identidade nada tem a ver com o conteúdo do livro Capitães da Areia. Qualquer comparação que possa ser feita trata-se de uma mera coincidência e não mais do que isso. É um nome fixe que remete para a adolescência à beira-mar. É um bom nome. É o nosso nome. Retirado do título de um bom livro.

(1) No original usam a palavra “pope”

(continua)