Manoel de Oliveira / CANNES, 12 Maio 2011 |
Para onde vai o cinema português? Tendo em conta alguns recentes ecos internacionais, vale a pena recordar que a International Press Academy, distinguiu Mistérios de Lisboa, de Raúl Ruiz, como o melhor filme estrangeiro estreado em 2011 nos EUA. Em Hollywood, José e Pilar, de Miguel Gonçalves Mendes, integra a prestigiosa lista de 63 títulos da qual sairão os cinco candidatos ao Oscar de melhor filme estrangeiro (nomeações a 24 de Janeiro).
Entretanto, em 2011, três filmes de Pedro Costa (Ossos, No Quarto da Vanda e Juventude em Marcha) surgiram no catálogo da Criterion Collection, uma das marcas de excelência do DVD. Internamente, este foi um ano de estreias de invulgar pluralidade criativa, incluindo títulos tão diversos como Sangue do Meu Sangue (João Canijo), Viagem a Portugal (Sérgio Tréfaut) ou O Estranho Caso de Angélica (Manoel de Oliveira).
Que sobra disto tudo? Pois bem, um mercado audiovisual que continua dominado pelo modelo “telenovelesco”, a ponto de os filmes serem tratados como objectos descartáveis de algumas programações televisivas (é mesmo frequente encontrar para alguns espaços a informação “filme a anunciar”...). Reside aí o cerne de uma questão que, em boa verdade, permanece adiada: a de saber se existe, ou pode existir, uma visão política para definir e estabilizar as formas da produção cinematográfica em Portugal. Que um determinado filme seja incensado por uns e repudiado por outros, eis um pormenor sem importância. A história das linguagens faz-se sempre dessa guerra.