sábado, dezembro 31, 2011

Memórias de uma noite de ano novo
(e a todos um bom 2012)


Foi há precisamente 30 anos. A 31 de Dezembro de 1981 a festa de passagem de ano parecia não ter outra banda sonora senão a do álbum de estreia dos Duran Duran, lançado alguns meses antes. A música vinha do andar de baixo, o jogo de varandas desalinhadas no edifício permitindo aos vizinhos de cima (nós) dar conta do que se ouvia e dançava mais abaixo.

Recorde-se que Portugal foi, em 1981, um dos primeiros países a fazer dos Duran Duran um fenómeno. De resto, Planet Earth, o seu primeiro single, atingira o número um entre nós (o que aconteceu apenas mais em países como a Suécia e Austrália). Tinham por cá passado para uma actuação televisiva e os outros três singles lançados nesse ano – Careless Memories, Girls on Film e, sobretudo My Own Way – eram presença regular nos espaços para telediscos na continuidade da emissão da RTP e em vários programas de rádio. Estas eram as quatro canções que conhecia (My Own Way sendo já um primeiro aperitivo para um segundo álbum que chegaria apenas na Primavera de 1982). Mas naquela noite a música que chegava do terceiro piso mostrava outras que nunca escutara antes. Não lhes conhecia os nomes mas, tantas vezes que foram repetidas, acabaram por soar quase como se tivessem singles. Três delas cativaram particularmente a minha atenção (mais tarde saberia que tinham por título Anyone Out There, Sound of Thunder e Friends of Mine e, hoje, são ainda os temas do álbum de estreia do grupo aos quais que mais vezes regresso).

Estávamos em 1981 e a economia portuguesa não era coisa que se mostrasse aos amigos... Ainda a fazer o liceu, vivia da semanada (não muito folgada) e tratava de poupar o mais possível no dinheiro para o almoço e lanche na escola. Feitas as contas, sobravam por semana perto de 120 escudos (aproximadamente uns 60 cêntimos actuais), precisamente o que era então preço de um single . Durante a semana, faltasse um professor ou houvesse um “furo”, visitava as novidades na Compasso, em Campo de Ourique. E a cada manhã de sábado passava em revista os escaparates das novidades nas lojas do Chiado. Começava na discoteca dos armazéns Novo Figurino, subia ao último andar do Jerónimo Martins, gastava a maior parte do tempo nas lojas Valentim de Carvalho e Discoteca Melodia, via as importações na Discoteca do Carmo, passava ainda pelos espaços dedicados aos discos nos Armazéns do Chiado. E, depois de muitas pré-escutas (a Melodia tinha ainda cabinas individuais para ouvir discos antes de os comprarmos, na Valentim havia vários auscultadores num balcão), escolhia “o” single a levar para casa. Querendo um álbum a dieta fazia-se durante duas semanas, à terceira estando reunidos os 360 escudos que custava. Mais perto do aniversário e no Natal dava para luxos de comprar dois ou três de uma vez!

Ainda com o mealheiro natalício por gastar, aquela noite ajudou a decidir qual seria o primeiro álbum a levar para casa no ano que começava. Em 1981 tinha comprado discos dos Depeche Mode, Lene Lovich, Classix Nouveaux, Human League, Blondie, Soft Cell, Stranglers ou Madness e, apesar de muito ter escutado na rádio Girls On Film, Careless Memories ou Planet Earth, ainda não tinha um único disco dos Duran Duran. Os três singles custariam 360 escudos. O mesmo que o álbum. Este juntaria às três canções as “novas” que descobrira nessa noite. Gerindo o orçamento, optei pelo álbum (mais tarde acabando por comprar os singles e nos três descobrindo magníficos lados B como Late Bar, Khanada e Faster Than Light). Foi a minha primeira decisão musical de 1982. E desde então não passa nenhum 31 de Dezembro em que não escute, de novo, esse álbum de 1981 (acabo de o ouvir, de resto)...

Trinta anos depois deixo aos leitores do Sound + Vision os votos de um bom 2012 (e não vamos falar da crise nem das profecias maias agora, ok?) com uma dessas canções que escutei pela primeira vez nessa noite de passagem de ano. Aqui fica Friends of Mine, um dos temas do álbum de estreia dos Duran Duran (1981). E um bom ano!