quarta-feira, dezembro 28, 2011
Os melhores livros de 2011
J.L.: A agência Magnum publicou um álbum dedicado às provas de contacto dos seus fotógrafos. De algum modo, é o fim simbólico de uma época, não apenas da fotografia antes do digital, mas também do papel como signo exangue de um tempo outro, literário sem dúvida, até mesmo na nossa relação com as imagens. Daí o assombramento das cartas de amor de Althusser (é a morte que se pressente) e a crença romanesca de Sollers (é a vida que não desarma): para além dos sobressaltos de cada um, ambos se movimentam na mesma paisagem mágica em que a escrita refaz a ordem do mundo. Tenham medo.
LETTRES À HÉLÈNE, Louis Althusser (Grasset)
TRÉSOR D’AMOUR, Philippe Sollers (Gallimard)
LES ÉCARTS DU CINÉMA, Jacques Rancière (La Fabrique)
FRANCIS BACON – LÓGICA DA SENSAÇÃO, Gilles Deleuze (Orfeu Negro)
CONTOS COMPLETOS, Vladimir Nabokov (Teorema)
A ESCAVAÇÃO, Andrei Platonov (Antígona)
A PURGA, Sofi Oksanen (Alfaguara)
OBRAS COMPLETAS I / HETERODOXIAS, Eduardo Lourenço (Fundação Gulbenkian)
ARGUMENTOS PARA FILMES, Fernando Pessoa (Ática)
MAGNUM – CONTACT SHEETS, colectivo (Magnum)
N.G.: Ler um livro como quem vê um filme. Como quem vê um pequeno filme. Uma curta-metragem, outra chegando logo na página seguinte e mais outra a seguir... Pequenas narrativas, breves sugestões, retratos de situações, o absurdo ou um estado de tensão caracterizando o que lemos (e vemos). São assim os pequenos contos que lemos em Short Movies, um dos livros que Gonçalo M Tavares publicou este ano e que, incluindo por vezes indicações concretas de movimentos de câmara, nos sugere como as palavras no fundo acabam por ser lidas como imagens. Do panorama de 2011 destaque-se ainda o início da publicação das obras de Christopher Isherwood pela Quetzal. Uma biografia de Mahler que procura na sua obra as marcas vincadas dos factos que cruzam a sua vida. Ainda um belíssimo exemplo da (pouco conhecida) literatura da Suíça, num belíssimo texto sobre o medo e o preconceito, por Jacques Chessex. Ou um olhar (com mais de 50 anos) sobre D. Pedro V, reeditado na recta final do ano.
1 . Short Movies, de Gonçalo M Tavares (Caminho)
2 . Um Homem Singular, de Christopher Isherwood (Quetzal)
3 . Why Mahler?, de Norman Lebrecht (Faber & Faber)
4 . O Vampiro de Ropraz, de Jacques Chessex (Sextante)
5 . D. Pedro V – Um Homem e um Rei, de Ruben Andresen Leitão (Texto)
6 . The Art of The Hobbit, de JRR Tolkien (Harper Collins)
7 . Le Mystère de La Grande Pyramide – Intégrale, de Edgar P. Jacobs ( Les Editions Blake & Mortimer)
8 . Listen To This, de Alex Ross (Fouth Estate)
9 . Onze Tipos de Solidão, de Richard Yates (Quetzal)
10 . O Ponto Ómega, de Don DeLillo (Sextante)