segunda-feira, dezembro 26, 2011

Os melhores filmes de 2011

J.L.: Para onde vai o cinema quando, cada vez mais, muitos dos seus espectadores foram educados numa cultura de downloads (mais ou menos legais)? Talvez que, roubando uma expressão a Marguerite Duras, possamos dizer que o cinema caminha para a sua perdição. Não por “culpa” desses espectadores – não se trata de pregar moral à maneira da ideologia televisiva dominante. Acontece que, cada vez mais, há uma linha muito nítida que separa os filmes que procuram preservar um gosto primitivo do cinema e todos os que parecem apenas concebidos para satisfazer uma lógica de difusão gerida pelos valores tecnocratas do marketing mais grosseiro (e menos cinéfilo). Não são os downloads, é a falta de cinema no meio disto tudo... Afinal de contas, o filme de Monte Hellman, Sem Destino [foto], sobre uma equipa que está a fazer um filme com uma câmara digital, chama-se no original Road to Nowhere – à letra: “estrada-para-nenhum-lugar”. Voilà!

FILME SOCIALISMO, de Jean-Luc Godard
A AUTOBIOGRAFIA DE NICOLAE CEAUSESCU, de Andrei Ujica
UM MÉTODO PERIGOSO, de David Cronenberg
A CONSPIRADORA, de Robert Redford
CRAZY HORSE, de Frederick Wiseman
SEM DESTINO, de Monte Hellman
VÉNUS NEGRA, de Abdellatif Kechiche
O MIÚDO DA BICICLETA, de Jean-Pierre e Luc Dardenne
A ÁRVORE DA VIDA, de Terrence Malick
ISTO NÃO É UM FILME, de Mojtaba Mirtahmasb e Jafar Panahi


N.G.: Se repararmos, havia já nos filmes anteriores de Terrence Malick sinais de uma demanda que apontava no sentido da busca de uma obra maior na qual, sem perder uma medula narrativa, o cinema buscasse antes um espaço mais próximo da relação poética que podemos ter com a música. Se A Árvore da Vida representa ou não o cumprir desse caminho, mas o certo é que, sem quaisquer sinais de ruptura face à sua obra anterior, no filme que estreou este ano (e que venceu Cannes) Malick concebe aquela que é não apenas a sua obra maior (até este momento) como aqui atinge um daqueles raros momentos que, certamente, a história do cinema nunca esquecerá. Pelos ecos da memória, buscando a redenção, olhando não apenas a “acção” e protagonistas mas também o que sentem e o mundo em seu redor, escutando na música (que vai de Preisner a Berlioz passando por Mahler, Resphigi ou Gorécki) ideias afinal tão determinantes como as imagens para o todo que procura. O ano viveu ainda de histórias (e imagens) vividas longe da cidade, contando-nos a vida do filho de um apicultor turco (Mel), a história de dois estagiários numa quinta alemã (Stadt Land Fluss) ou a odisseia, em espaços sem estradas do Oregon, de uma caravana do século XIX (O Atalho), esta última mostrando que o western pode ser ainda cenário onde há novos pontos de vista a explorar. Dois notáveis filmes de Gus Van Sant e dos irmãos Dardenne completam a etapa de ficção de uma lista que soma três documentários, sinal da cada vez mais marcante presença deste espaço no panorama cinematográfico do nosso tempo.

1 . A Árvore da Vida, de Terrence Malick
2 . Mel, de Semih Kaplanoglu
3 . Sangue do meu sangue, de João Canijo
4 . Stadt land Fluss, de Benjamin Cantu
5 . Inquietos, de Gus Van Sant
6 . O miúdo da bicicleta, de Jean-Pierre e Luc Dardenne
7 . An angel van Doel, de Tom Fassaert
8 . Não é na terra, é na lua, de Gonçalo Tocha
9 . O Atalho, de Kelly Reichatdt
10 . Histórias de Shanghai - Quem me dera saber, de Zhang Ke Jia