sexta-feira, dezembro 09, 2011

'O Rei Leão' (1994)
por Diogo Figueira



Este mês pedimos a uma série de amigos que nos falassem do “seu” filme da Disney. Hoje recordamos O Rei Leão, longa-metragem de 1994 que aqui é evocada por Diogo Figueira, autor do blogue A Gente Não Vê. Um muito obrigado ao Diogo pela colaboração.

Foi por volta de 1995, num cineteatro de uma pequena cidade costeira, a primeira vez que me sentei naquela escura e mágica caixa de sonhos, ainda sem altura suficiente para os bancos almofadados, mas confortável ao colo do meu pai – e logo se note a componente pai/filho que o filme evoca. Com a dificuldade que é a de localizar espacial e temporalmente algumas memórias da nossa infância, esta sei eu que é das mais concretas e, indubitavelmente, das mais antigas. No final, tivemos de correr a comprar o CD da banda-sonora original. Aos quatro anos, a minha vida mudava para sempre.

O Rei Leão é, e porventura sempre será, o único filme que me tenta o canal lacrimal logo aos primeiros trinta segundos. Sem sucesso, diga-se, até à morte do rei Mufasa, momento da história que desperta a viagem do herói Simba e confirma a inspiração clássica em Hamlet, de Shakespeare. Atingiu-me desde logo, julgo em retrospectiva, pelo retrato belíssimo da savana e dos animais (fascinavam e fascinam-me), pela articulação majestosa das cores e formas (a abertura ou em Eu Mal Posso Esperar P’ra Ser Rei), contra a aterradora emergência do mal, em verdes, negros e fogos expressionistas e rochosos, em esqueletos e desertos de pó macabros, nas coreografias totalitárias das hienas. Simba é o melhor herói de sempre e a viagem divertidíssima com Timon e Pumba (fica adulto em cinco segundos, naquela ponte, num dos meus momentos favoritos do filme) nunca voltei eu a sentir, em inspiração ou paradigma narrativo (as personagens arquétipo ou o que seja), em lado algum. Zazu é igualmente delicioso (ou só ossos e amargo?). Rafiqui, que pouco aparece, protagoniza um dos momentos mais bonitos do cinema, quando nota que o Rei está vivo. Sobre Nala, que mais se não aquele momento musical ? Mufasa protege-nos a nós próprios e sinto-me vulnerável a partir do momento em que desaparece, para a minha confiança explodir (e a nova lágrima) quando reaparece, à noite, no céu – “Lembra-te.”. Scar ? Um dos melhores vilões de todos os tempos. Odiável. Execrável. Mau, mau, mau. Horrível. Ainda bem que morreu.