Ornatos Violeta
“Ornatos Violeta”
Universal Music
4 / 5
Mas porque se faz uma antologia sobre os Ornatos Violeta sem uma linha que explique, afinal, que banda era esta para quem a descubra hoje ou reencontre agora? Como se investe num grafismo coerente (magnífico, sublinhe-se) e não se pensa que há aqui uma história para contar? E até informação útil para dar?... Mas antes, falemos da música... Marcantes no seu tempo, influentes desde logo, mitificados desde então, os Ornatos Violeta são referência maior na história pop/rock made in Portugal dos noventas. E mesmo com uma obra que se concentra em apenas dois álbuns de originais, alguns singles e participações em diversas compilações, afirmaram aquele sentido de urgência criativa que sabe agitar as águas. Voz única, própria, aliando o ecletismo do saber ouvir à afirmação clara de um querer fazer, a música dos Ornatos Violeta deu primeiros sinais promissores muito antes de chegados os discos, Cão (1997) captando o retrato de uma inquietude feita coisa mais angulosa nas formas, O Monstro Precisa de Amigos (1999) aprofundando o labor da moldagem das ideias a uma arte final mais elaborada (1999) num álbum onde surgem colaborações com Vitor Espadinha e Gordon Gano (dos Violent Femmes). Trabalhavam a língua portuguesa num tempo em que muitos acharam que era em inglês que podiam ir mais longe. Projectaram as ideias em palavras que traduziram a verdade do seu mundo, do seu tempo, do seu lugar. E convocaram visões num largo espectro de acontecimentos, do todo nascendo uma síntese coerente e segura de si. Mas ficaram por ali... Separados deram continuidade, cada um segundo os seus interesses, a ideias que ali, de certa forma, conheceram importante patamar. E agora, mais de dez anos depois das últimas gravações, eis que surge a (muito esperada) antologia. Não é exactamente uma integral (faltam, por exemplo, uma Madame Banho ou um Homens de Principios, ambas canções lançadas em compilações ), mas está muito perto de o ser, juntando aos dois álbuns de originais um terceiro disco que, sob o título Inéditos/Raridades, ajuda a completar a história evocando, por exemplo, o já distante Dez Lamúrias Por Gole (surgido com uma edição da revista Ritual em 1995), o viçoso Tempo de Nascer (da compilação Tejo Beat, sob produção de Mario Caldato Jr) ou a versão de Circo de Feras (do tributo aos Xutos & Pontapés XX Anos XX Bandas) mais o belíssimo e conciso Marta (um Lado B) e alguns inéditos que remontam às sessões do segundo álbum. E como podemos saber de onde provém estes inéditos e raridades? Porque ou temos esses discos ou conhecemos a história, que o booklet se limita a dar uma completa ficha técnica, esquecendo-se de citar a proveniência dos temas. De resto, é neste departamento que a caixa antológica é uma absoluta desilusão. Não só não apresenta um único texto de contextualização (nem mesmo uma recolha do que se falou sobre a banda na época) como não informa o que são, afinal, as raridades e inéditos que parecem ser a única razão pela qual se reconhece aqui algo de novo. Fazer antologias não é só somar gravações, empacotar e já está. E nesta caixa dos Ornatos Violeta (que justificava muito mais) perdeu-se uma bela oportunidade para fazer um pouco da história do Portugal musical dos noventas. É pena.